04/09/2023
[Do stories para o feed]
Eram quase sete da manhã quando escutei vindo do quarto de Matias o som de nossa vitrola sendo ligada. O chiado característico da agulha dançando no vinil preto deu espaço para as primeiras vozes, que entoavam "I can see clearly now the rain is gone".
Meu filho tem 4 anos. Nossa vitrola tem 40. De nosso quarto, deitada na cama, posso imaginar ele na ponta dos pés pra alcançá-la, arvorado no banquinho que carrega pra lá e pra cá dentro de casa a fim de alcançar o que quer que seja inalcançável a uma criança de 1 metro.
Tudo se resume a “Deixa que eu pego sozinho, mamãe.” E assim começam os primeiros passos à independência desse pequeno ser humano.
Matias ama a vitrola, vai passando de faixa em faixa, enquanto balança os pequenos quadris descordenadamente no ritmo da música. Tem vezes em que ele solta: “Essa música é engraçada, mamãe!”. Tem outras em que percebe...“Essa música é triste”.
Algumas vezes, como agora – e credito isso àquelas vontades que vêm do nada -, ele escuta a música no último volume: “It’s gonna be a bright sunshiny day”.
Ainda deitada, penso em como meu filho está crescendo, desenvolvendo sua personalidade e auto-estima. Uma mistura minha e de meu marido - espero que o melhor de nós dois. É o amálgama de nosso passado, presente e futuro em um só ser.
Assisto maravilhada a esses 4 anos de assombrosa evolução. Como uma vitrola velha tocando discos do passado, Matias alterna entre dias de disco arranhado enroscando a agulha; dias de chiado rouco abafando a canção; dias de música boa no último volume.
Em nosso coração de pais, o desejo quase suplicante, de que ele continue docemente dançando essa maravilhosa e inexplicável trilha sonora a que chamamos de vida. “It’s gonna be a bright sunshiny day”.
Texto By Mamãe Carla