13/10/2025
Crescemos ouvindo que criamos os filhos para o mundo.
Essa frase, repetida por tantas gerações, parece simples até o dia em que ela se cumpre diante dos nossos olhos.
Eu fui criada assim: com liberdade, incentivo e o amor de quem sabe que o ninho é abrigo, não prisão.
Fui ensinada a abrir as asas, e um dia, sem perceber, voei.
Fui para o mundo, aquele mesmo mundo para o qual fui preparada. Deixei para trás a casa onde o som da voz da minha mãe, o assovio de pai quando chegava em casa, eram sinônimos de segurança.
Hoje, o ciclo se repete.
Vivo a mesma experiência que minha mãe viveu: ver os filhos seguirem seus caminhos, com a mala carregada de sonhos e a pressa de quem quer desbravar o desconhecido.
E, hoje entendo o silêncio que vi tantas vezes nos olhos dela, aquele silêncio que mistura orgulho e saudade, entrega e esperança.
É nesse ponto que me lembro de Donald Winnicott, o pediatra e psicanalista inglês que cunhou o conceito da “mãe suficientemente boa”. Ele dizia que uma mãe suficientemente boa não é a que faz tudo certo, mas a que faz o bastante.
O bastante para que o filho se sinta amado, seguro, e capaz de andar com as próprias pernas.
Com o tempo, nós mães, aprendemos a errar, a soltar, a permitir que o mundo também ensine.
E talvez esse seja nosso maior gesto de amor: aceitar que o amor não se mede na presença constante, mas na confiança que permanece, mesmo à distância.
Os ciclos da vida nos convidam a revisitar papéis. Um dia somos os que partem; depois, os que ficam.
Entre um movimento e outro, aprendemos que crescer é difícil, e deixar partir também.
Mas é nesse desconforto da mudança de ciclos que a vida pulsa.
No vai e vem das gerações, na delicadeza de um amor que sabe quando é hora de segurar e quando é hora de soltar.
No fim, criar filhos para o mundo é, de algum modo, também se recriar.
Um abraço em todas as mães suficientemente boas que, assim como eu, estão vivendo o aprendizado dessa nova fase de vida.