Oliver Schmidt - Psicólogo/Psicanalista

Oliver Schmidt - Psicólogo/Psicanalista Kennedy.

Oliver Schmidt é graduado em Psicologia pela UFPR, especialista em Psicologia Clínica: Abordagem Psicanalítica pela PUC-PR, e Mestrando em Teoria Psicanalítica pela Universidad John F.

06/11/2022

Afinal, pra quê serve uma análise?

Dou uma resposta curta e direta: para desconstituir o sujeito suposto saber. É esta a finalidade de uma análise, todo o seu percurso se encaminha para isso. Mas o que é o sujeito suposto saber? É possível pensá-lo de várias formas, e em diversos campos, mas para tentar dar uma imagem dele, para que possamos reconhecê-lo, vamos tentar associar com algumas palavras: trata-se do lugar da Verdade (toda, absoluta), trata-se do lugar da certeza, ou do lugar do Deus onipotente, ou de um sujeito que escape à castração, ou que comporte o brilho que aponta para algo além daquilo que se apresenta na realidade. Quando nos fazemos sujeitos, renunciamos a algo essencial para entrar na realidade, perdemos, como se diz, uma libra de carne que jamais poderemos reecuperar. Porém tudo que vivíamos como algo 'fantástico', místico, sobrenatural, paranormal, tudo que aponte para o sublime, para o mistério, para a perfeição, tudo isso se reduz a determinados pontos, que fazem parte da realidade mas que apontam para um além dela, para um além disto que vivemos no aqui e agora, que nos trazem um pedacinho daquele ser completo e grandioso que acreditamos ter tido contato antes de subjetivarmos esta perda. Trata-se do 'objeto a'. Todo o problema do neurótico é acreditar que o objeto a, na verdade, nós não temos, mas este sujeito suposto saber tem, ou sabe como consegui-lo. Aí está o engano. E por quê uma análise se encaminha para a destituição do sujeito suposto saber? Porque todo o sofrimento neurótico gira em torno desta figura. Desconstitui-lo é saber que não há um saber total em algum lugar. Pense no saber científico: é um saber chato, desencantado, sem graça, não se trata de um saber que nos preenche enquanto sujeitos, é um saber que se faz dentro de um método, que se faz em determinadas condições, que é incompleto, parcial, que está aberto ao diálogo, que se faz dentro de uma comunidade científica, que é posto em debate com os pares, é um saber destituído de uma "Revelação", de uma mística, de algo sobrenatural ou fantástico, não revela nenhuma moral, não nos orienta em nada na vida, é um saber 'bruto'. Da mesma forma, no campo político, a democracia é sem graça também, nos queixamos o tempo todo de que ela não funciona como queríamos, temos sempre de renunciar a algo e nunca é da forma como queríamos que fosse, não conseguimos fazer a coisa funcionar 'na marra', não há esse lugar do Poder Soberano, cada um cede de algo; digamos que, quando a democracia funciona bem, todos perdem algo no final. O que seria a figura do suposto saber na ciência ou na democracia? Na primeira, seria o saber religioso, seriam as teorias conspiratórias, seriam as crenças, as certezas que não entram em dialética com o outro, que não são permeáveis, que não dialogam, que são fixas, que excluem o debate com os pares, apontam para o inefável, o indizível, aquilo que apenas 'se sente', aquilo que apenas 'se sabe', que não necessita de demonstração, que não necessita de se dar provas. Ou seja, ao invés de saber, trata-se do lugar da certeza. Na democracia, seria o autoritarismo, o totalitarismo, a volta do Poder Soberano, aquele que se mistura com o lugar do Pai, que se mistura com paixões, como o amor, a vingança, o ódio; o lugar daquele que se idolatra, que se fantasia, que ocupa este lugar de exceção, o ser não castrado, aquele que não cede, que não necessita se curvar aos demais, que não necessita renunciar a nada. Da mesma forma, a desconstituição do sujeito suposto saber dentro do campo da psicanálise também traz a marca não exatamente da insatisfação, mas do desencantamento. Trata-se do sujeito que já perdeu aquela fantasia de que, se não pular 5 vezes, algo terrível lhe irá acontecer, e que sempre lhe dava um gostinho de que há algo a mais na realidade e que lhe angustia; ou daquele sujeito que já não espera demais de seu parceiro amoroso, que não necessita mais da romantização própria ao campo do amor, já não vive nem tão ciumento, nem tão loucamente apaixonado; ou do sujeito que já não vive deprimido por não ter alcançado o ideal de ser humano que esperava ter sido, e que se contenta com o que está aí, com o que se fez e com o que ainda poderá fazer; ou do sujeito que já não se angustia ao ter de se apresentar, ou se expor diante dos outros, porque já não espera mais tanto do que irá dizer, nem se importa tanto com o que, do que disse, os outros ouviram, isto é, sabe que na melhor das hipóteses não haverá reciprocidade. Trata-se de um sujeito que não necessita que a conta se feche, que a chave entre na fechadura, que as coisas entrem em equilíbrio, que haja harmonia, que os conflitos deixem de existir; ou que não acredita mais numa suposta maturidade ou ideal que deveria alcançar, que consegue questionar os discursos que sustentam os pontos supergoicos, de 'como as coisas deveriam andar', de 'como as coisas deveriam ser feitas', de 'como eu deveria ser', isto é, discursos que sustentam a figura do sujeito suposto saber. É um sujeito que consegue sustentar um vazio neste lugar onde parecia que deveria haver, afinal, alguma coisa 'a mais', aquele brilho que, ainda que trouxesse angústia e medo, lhe dava a esperança de viver algo que está fora de toda realidade possível. É um sujeito que está advertido de suas romantizações, que consegue vivenciá-las, mas que não se engana com elas.

Oliver Schmidt

13/02/2022

Uma coisa é o lugar fantasmático de vítima, este lugar passivo, de sofrimento, de sacrifício, que condena o presente e o futuro a repetir a história do passado. Outra coisa é se reconhecer vítima de instantes contingentes da vida ou de condições estruturais que fazem parte de uma dimensão social que, ao mesmo tempo que lhe escapa, o determina. Nessa última acepção, se reconhecer vítima pode ser o primeiro passo antes de um ato de subversão.

Oliver Schmidt

15/04/2016
27/01/2016

Sobre o supereu

Assim como muitas vezes ouvimos por aí, depois de algum ato falho ou de alguma atitude impensada, que "só se foi meu inconsciente que fez isso", também vemos por aí o supereu sendo localizado como uma instância exterior ao sujeito, que o limita e o julga: "sou assim porque a sociedade me limita", "tenho baixa auto-estima por causa do padrão social imposto que me subjuga", etc. É verdade que a sociedade e os padrões sociais estão aí, mas o supereu não é estritamente uma imitação da sociedade, nem é um conjunto de práticas que visam punir comportamentos egoístas, como se diz muitas vezes. Confundir o supereu e as práticas da sociedade e das outras pessoas, como se ele fosse algo exterior ao sujeito, é justamente do que o neurótico precisa ser curado. Confundir o supereu com a injunção de pais, professores, da sociedade, da mídia, das autoridades em geral, é o que a neurose faz. Em psicanálise, aprendemos que o mal não vem de fora, e esse é um primeiro passo a ser dado por quem está em trabalho de análise: perceber que o supereu somos nós mesmos e que temos alguma satisfação em enxergá-lo nos outros.
É verdade que aí fora pode haver críticas por todos os lados, mas isso não se confunde com o supereu. Este só advém quando transformamos as críticas em imperativos, quando transformamos valores e regras sociais em imperativos aos quais devemos atender. O supereu é simplesmente uma lei insensata, uma exigência psíquica, um "dever ser" que se impõe ao sujeito e se apoia em qualquer conteúdo para se expressar. É uma instância que simplesmente pede e demanda, não importa o quê. Pode inclusive ser contraditória: "Não tente fazer isso, você não vai conseguir" pode ser tão superegoico quanto: "Vá! Faça! Tente! Não deixe para depois! A vida é agora!". O supereu, portanto, não se confunde com as leis morais, mas simplesmente faz sua presença por estar marcado pelo signo de um "dever". Então cuidado com as terapias que impõem um ideal sobre quem você deveria ser, ela pode estar baseada em um imperativo superegoico, ainda que mascarado de boas intenções.

Oliver Schmidt

19/01/2016

Ser psicanalista
Jacques Lacan - Seminário 3

Há sempre coisas que não colam. É um fato evidente, se não partimos da ideia que inspira toda a psicologia clássica, acadêmica, ou seja, a de que os seres humanos são seres adaptados, como se diz, já que vivem, e portanto que tudo deve colar. Vocês não são psicanalistas se admitem isso. Ser psicanalista é simplesmente abrir os olhos para essa evidência de que não há nada mais desbaratado que a realidade humana. Se vocês creem ter um eu bem adaptado, razoável, que sabe navegar, reconhecer o que tem de ser feito e o que não tem de ser feito, levar em conta as realidades, não resta senão mandá-los para longe daqui. A psicanálise, nisso se juntando à experiência comum, mostra-lhes que não há nada mais estúpido que um destino humano, ou seja, que sempre se é passado para trás. Mesmo quando se faz alguma coisa que dá certo, não é justamente o que se queria.
(...) Não é por acaso, por que isso poderia ser de outro modo, que por uma sina estranha atravessemos a vida sem encontrar ninguém que não infelizes. Dizemos para nós mesmos que as pessoas felizes devem estar em alguma parte. Pois bem, se vocês não tiram isso da cabeça, é que não compreendem nada de psicanálise. Eis o que chamo levar as coisas a sério.

12/01/2016

Se consideramos os sintomas, um a um, que fazem sofrer, e que a análise resolve e faz desaparecer, sem dúvida podemos falar de tratamento. Mas a repetição que acarreta toda uma existência num movimento inexorável não é um sintoma: confunde-se com o próprio ser. Não se pode esperar esclarecê-la, e modificá-la, senão em função de um compromisso de desejo, que não seja mesquinho nem econômico de si mesmo.

Jacques-Alain Miller, no prefácio do livro de Varon Horne "Fragmentos de uma vida psicanalítica"

22/12/2015

O neurótico é um doente que se trata com a palavra, e acima de tudo, com sua própria palavra. Ele deve falar, contar, explicar-se a si próprio. Freud define a psicanálise como a assunção por parte do sujeito de sua própria história, na medida em que ela é constituída pela palavra endereçada ao outro. A psicanálise é o reino da palavra, não há outro remédio. Freud explicava que o inconsciente não é tão profundo quanto inacessível a um exame profundo do consciente. E ele dizia que nesse inconsciente, aquele que fala é um sujeito dentro do sujeito, transcendendo o sujeito. A palavra é a grande força da psicanálise.

Jacques Lacan (1974)

26/11/2015

No meio do caminho tinha uma pedra

Existe uma pedra no caminho, todo mundo sabe, mas ela só é um obstáculo porque me pus a caminho. Aliás, é por isso que o poeta diz que ela se encontra no meio do caminho. Em si mesma, a pedra está onde deve estar, ela ocupa seu lugar. O lugar é o seu, pelo fato de que ela o ocupa. Este lugar, que é o seu, ela o ocupa sem intenção. A pedra não tem a intenção malvada de atrapalhar o meu caminho. A pedra de Carlos Drummond de Andrade é como a rosa de Angelus Silesius; ela é sem por quê. Ela não está lá para me incomodar ou me deter, mas ela me incomoda e me detém porque me pus a caminho, porque estou no meio do caminho, porque instaurei no mundo, neste mundo no qual se encontra a pedra, um caminho que encontra esta pedra. Esta pedra, não fui eu que a criei, esta pedra existe. Tinha uma pedra, ela já estava lá antes que eu a encontrasse. Mas dependeu de mim, foi por minha causa que uma pedra que existe no mundo se tornou esta pedra que eu encontro no meio do caminho. Prestemos atenção nisso, que o caminho não existe no mundo tal como existe esta pedra. O caminho só existe porque me pus a caminho, o caminho existe por minha causa, e a pedra não existe por causa de mim. Mas ela se torna um obstáculo por causa do caminho que eu introduzi no mundo. Não há obstáculo da pedra se não há caminho. Mas, sem dúvida, não há caminho se não houver a pedra. Se não houvesse uma pedra no meio do caminho para me deter, para me obrigar a vê-la, para me obrigar a repetir aquilo que vejo com os meus olhos fatigados, será que eu saberia que estou no caminho? É pelo caminho que a pedra existe, mas é também pela pedra que o caminho existe.

Jacques-Alain Miller - O osso de uma análise

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