20/11/2025
Eu nunca fui um preto periférico.
Nasci e cresci em um bairro de classe média em Curitiba, uma cidade onde muitos negros, como eu, vêm meio “desbotados”, fruto da miscigenação brasileira.
Na escola, muitas vezes eu era o único negro da sala… às vezes até da escola inteira.
Mas eu nem percebia. Eu só vivia.
Nunca aprendi a lidar com racismo porque ele quase nunca apareceu de forma direta. Ou passou despercebido… ou minha mente escolheu não registrar ou bloquear.
Cresci em uma família miscigenada: mãe branca, loira, olhos esverdeados; irmão branco, olhos verdes; pai negro e pele como a minha.
Um sobrenome europeu que descobri ser tcheco, não polonês.
Uma família que se via europeia… mesmo com minhas avós trazendo traços negros, africanos e indígenas.
Por muito tempo, eu também me via assim: meio branco, meio pardo, meio nada… um “polaco preto” tentando se encaixar.
Fazia de tudo pra caber nesse molde: alisava o cabelo, escovava, usava a Power Paste da Keune para segurar o topete de ave rara.
Na maquiagem corretiva, afinava o nariz.
Eu me apagava sem perceber.
E, nas fotos antigas, minha pele parecia até mais clara.
Perto dos trinta, algo mudou.
Deixei a barba crescer.
Tentei descobrir meu cabelo natural… e acabei raspando por praticidade (ou por medo do espelho). Hoje, careca (😱😅🥲😭🙂↕️), entendo que cada fase era parte do caminho para me reconhecer.
Aos 40, celebro a consciência do meu corpo, da minha cor, da minha história.
A consciência de ser um homem negro, mesmo que minha negritude tenha sido suavizada e ignorada por tantos anos.
E tem algo curioso nisso tudo: em oito anos trabalhando com terapêutica tântrica corporal e vibracional, consigo contar nos dedos quantas pessoas negras atendi. Menos de dez.
Isso fala de acesso, acolhimento e do quanto pessoas pretas foram afastadas de espaços de cuidado, sensorialidade e presença.
Pra mim, o Dia da Consciência Negra é sobre presença. Sobre reconhecer minha história, mesmo cheia de nuances, mesmo nas bordas.
Consciência é corpo.
Consciência é liberdade.
Consciência é assumir aquilo que sempre foi meu.