24/05/2025
marcelofveras O que você não viu em Grey’s anatomy
Estudando para um debate sobre a relação entre ciência e psicanálise, descobri algo interessante. Gray’s Anatomy, com “a”, um livro clássico da medicina no qual muito estudei na minha época de cirurgia, suprimiu na virada do século 19 um órgão inteiro do corpo feminino: o clítoris. Não se preocupem, a doutora Grey não tem nada a ver com isso.
Mas, por quê? Porque não servia à reprodução, portanto, algo “inútil”. Era assim mesmo que alguns textos científicos o descreviam. Um apagamento simbólico bem psicanalítico, castraram a mulher até nos livros de anatomia.
Foi apenas nos anos 90 que a urologista australiana Helen O’Connell, primeira mulher urologista da Austrália, decidiu investigar mais a fundo, utilizando ressonância magnética em mulheres vivas. Seu trabalho revelou que o clítoris é uma estrutura extensa, interna, composta por bulbos e corpo erétil. Em média, tem 12 cm de comprimento, só que se espraia, como você pode ver na figura.
Curiosamente, os livros utilizavam apenas cortes sagitais, que favorecem a visibilidade do p***s. Helen, ao adotar cortes axiais, revelou o que estava recalcado na imagem anatômica: um órgão homólogo ao p***s, tão complexo quanto, apenas menos visível. Mas o que é visível, afinal, quando o olhar é moldado pelo falocentrismo médico?
P***s e clítoris não são estruturas opostas.
São irmãos embriológicos, separados apenas pela função (e pelo significante). Ao restituir ao cl****is sua verdadeira anatomia, O’Connell também desestabilizou a fantasia fálica que tanto sustentou a ilusão da supremacia anatômica masculina.
E cuidado, machos alfas: com 12 cm em média, o clítoris pode provocar muita inveja em alguns homens.