02/12/2025
Atendo mulheres há muitos anos. Mulheres fortes, inteligentes, sensíveis — que um dia foram silenciadas por manipulação, abuso psicológico ou violência direta. Nenhuma delas imaginou que pudesse chegar até ali. E é justamente por isso que o feminicídio me atravessa não como estatística, mas como realidade que vejo de perto, todos os dias, em histórias que poderiam ter terminado de forma muito pior.
Feminicídio não é um caso isolado. Não é uma tragédia distante. Não é “coisa de cidade grande”.
É um sintoma — grave — de uma cultura que ainda permite que mulheres sejam tratadas como propriedade, como alvo, como objeto descartável. E enquanto esse padrão seguir sendo visto como “problema das mulheres”, nada muda de verdade.
Todos os dias, meninas e mulheres são feridas, silenciadas, ameaçadas, mortas. E todos os dias a sociedade envia a mesma mensagem: a violência continua porque o silêncio continua.
Silêncio das instituições.
Silêncio das estruturas que deveriam proteger.
Silêncio de muitos homens que veem, mas não se movem.
Mas eu também vejo outra coisa nos atendimentos: vejo mulheres reconstruindo a própria voz, recuperando o corpo, o espaço, a vida. Vejo a coragem nas pequenas decisões, na busca por apoio, na saída de relações abusivas que pareciam impossíveis de romper.
E é isso que me faz acreditar que mudar é possível — mas não será apenas pelas mãos delas.
A verdadeira transformação acontece quando a sociedade inteira assume responsabilidade: quando homens se posicionam, quando o Estado protege, quando o silêncio é substituído por ação e quando a vida das mulheres deixa de depender da própria sorte.
Que cada uma de nós siga encontrando força.
E que cada um de vocês, homens, siga encontrando consciência.
Porque proteger mulheres não é um favor — é um compromisso humano.
Luciana Barros, psicóloga.
Toda mulher merece viver sem medo.