Jessica Nevel Psicanálise

Jessica Nevel Psicanálise O trabalho psicanalítico é jornada de deslocamento, abertura, iluminação de pontos cegos, e restauração pulsional

Vivemos em um mundo onde tempo e espaço já não são limites como antes. Com um clique, falamos com alguém do outro lado d...
13/10/2025

Vivemos em um mundo onde tempo e espaço já não são limites como antes. Com um clique, falamos com alguém do outro lado do planeta. Não é mais preciso viajar, esperar ou sequer estar fisicamente presente. Essa separação entre tempo e espaço, que o sociólogo Anthony Giddens chama "desencaixe", transforma profundamente nossa forma de viver e de nos relacionar.

No passado, a experiência era construída no contato direto, no corpo presente, no tempo vivido. Hoje, a mediação tecnológica substitui a presença por conexões digitais. Isso gera uma sensação de aceleração constante e, ao mesmo tempo, de vazio. Estamos sempre conectados, mas muitas vezes desconectados de nós mesmos. A ausência de limites concretos alimenta uma ansiedade difusa: tudo é possível, mas nada é estável.

A forma como lidamos com a propriedade também mostra o efeito do desencaixe. Se antes possuir terras era sinal de poder, hoje, títulos financeiros e ativos digitais, coisas que não se tocam, definem quem tem ou não tem. A realidade concreta dá lugar a abstrações. Isso pode gerar insegurança, afinal, se tudo é abstração, o que é realmente concreto?

Até nossos corpos entram nesse jogo. Com a multiplicação de procedimentos estéticos, filtros e cirurgias, a idade se torna um enigma. O rosto não revela mais o tempo vivido. Isso pode parecer libertador, mas também nos afasta da aceitação do envelhecimento e da finitude. O corpo, que antes contava nossa história, agora tenta apagá-la.

Essas transformações têm um custo psíquico. A constante necessidade de se adaptar, de se reinventar, de parecer jovem e produtivo, alimenta ansiedades, inseguranças e uma sensação de insuficiência. A experiência, esse saber que vem do tempo vivido, é trocada por simulações, por atalhos, por inteligências artificiais que pensam por nós.

Estamos, aos poucos, renunciando à experiência em nome de uma fantasia de eficiência. Será que estamos preparados para viver num mundo onde tudo é imediato, marcado pelo desencaixe e pela compressão de tempo e espaço, e ainda assim acolher a subjetividade humana? Reapropriar-se da experiência singular é, hoje, um ato revolucionário.

Foto de David Young

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Por que não regulamentar a psicanálise

A infância não é útil, mas é vitalNa clínica psicanalítica, escutamos não apenas o que é dito, mas o que foi silenciado....
17/09/2025

A infância não é útil, mas é vital

Na clínica psicanalítica, escutamos não apenas o que é dito, mas o que foi silenciado. A adultização de crianças, muitas vezes associada à exposição precoce à sexualidade, também se revela em formas sutis e devastadoras: a supressão da infância como espaço legítimo de desenvolvimento psíquico.

Trata-se de uma violência simbólica que se instala quando a criança é convocada a ocupar funções que não lhe pertencem — como suporte emocional de pais adoecidos, cuidadora de irmãos ou mediadora de conflitos familiares.

Ferenczi, ao falar da “confusão de línguas entre adultos e crianças”, já apontava o risco de uma criança ser tratada como um adulto em miniatura, perdendo o direito de experimentar seu mundo interno com liberdade. Essa confusão se estende à responsabilização precoce, à exigência de maturidade emocional e à negação do tempo lúdico, do devaneio, da fantasia.

O recorte de gênero torna essa dinâmica ainda mais cruel. Meninas são investidas como pequenas mães, responsáveis por afetos e rotinas que deveriam estar sob o cuidado dos adultos. Essa sobrecarga rouba a espontaneidade da infância e impede o contato com seu território emocional — aquele espaço fértil onde se constroem os alicerces da subjetividade.

Sem tempo para brincar ou sonhar, essas crianças crescem com um vazio que não é ausência, mas excesso: de demandas, expectativas e silêncios impostos.
A adultização é uma forma de abandono — não físico, mas da experiência de ser criança.

A infância, que deveria correr como a correnteza de um rio, desvia-se pelos afluentes, aparecendo apenas nas brechas. Em tempos em que se valoriza a utilidade, abrir espaço para a criança interna é um ato revolucionário.

Que espaço damos para escutar a criança que pulsa em nós?

A boiaDepois da mudança para o Sul, o frio que se dilatava por todas as esferas se tornou uma ingrata novidade. Do apart...
09/09/2025

A boia

Depois da mudança para o Sul, o frio que se dilatava por todas as esferas se tornou uma ingrata novidade. Do apartamento escuro e cinza na cidade, o contato com o universo solar, ainda adormecido, desejava despertar e tomar parte na nossa vida.

Foi no posto de gasolina que conseguimos a câmara de pneu de caminhão remendada. Ansiosos, eu e meus dois irmãos mais novos inflamos aquele pedaço de borracha que se tornou a grande alegria daquela temporada na praia.

Saímos os três, andando por três quadras, com a boia rolando pelas ruas de terra buscando a viela que levava ao mar. A boia, maior que nossa altura foi cuidada e guiada pelas seis pequenas mãos e pés até a água.

Atravessar a arrebentação e conseguir equilibrar-se na boia era a diversão. A pele, já bronzeada e banhada pela água salgada reluzia com o sol. Era escorregadio. Enquanto um conseguia subir e o outro caia. As vezes dois conseguiam subir, mas com o peso do terceiro, o outro caia. As vezes a boia ganhava vida própria e derrubava a todos. Gargalhávamos triunfantes, com as quedas, os resgates e o equilibrar-se na boia. O cair e se levantar era o júbilo.

Em meio aos remendos, entre as quedas, levantes e escorregões ao longo das décadas, a boia foi nos ensinando como sustentar esse delicado vínculo, até os dias de hoje.

Parabéns para o pelo seu aniversário. Parabéns para o Benjamin. Parabéns para nós!

Me parece uma boa recomendação para todos, em especial para aqueles que, como eu, tem na palavra e na escuta um importan...
05/08/2025

Me parece uma boa recomendação para todos, em especial para aqueles que, como eu, tem na palavra e na escuta um importante instrumento de trabalho.

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Me pareceu ser uma boa recomendação a todos, assim como eu, que usamos a palavra como instrumento de trabalho.Repost de
05/08/2025

Me pareceu ser uma boa recomendação a todos, assim como eu, que usamos a palavra como instrumento de trabalho.

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"O dia jaz cada manhã como uma camisa fresca sobre nossa cama; esse tecido incomparavelmente fino, incomparavelmente den...
04/05/2025

"O dia jaz cada manhã como uma camisa fresca sobre nossa cama; esse tecido incomparavelmente fino, incomparavelmente denso, de limpa profecia, assenta-nos como molde. A felicidade das próximas vinte e quatro horas depende de nós que, ao despertar, saibamos como apanhá-lo"

Walter Benjamin. Obras escolhidas Vol II

Que encontro!

"A felicidade das próximas vinte e quatro horas depende de que nós, ao despertar, saibamos como apanhá-lo"Não tem como s...
04/05/2025

"A felicidade das próximas vinte e quatro horas depende de que nós, ao despertar, saibamos como apanhá-lo"

Não tem como sair transformada nesse encontro com Benjamin

Obras escolhidas Vol II. Walter Benjamin

20/04/2025
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O que fazemos?

Desenvolvimento humano, sem fôrma ou fórmula mágica: a escuta atenta e analítica é a porta de entrada. Ferramentas certificadas e atividades colaborativas fazem parte do processo. E a devolutiva é um trabalho clínico. O trabalho de autoconhecimento, seja ele através de coaching, atendimento clínico ou desenvolvimento de líderes e equipes, está longe de ser o fechamento em uma solução pronta, é o processo de deslocamento, abertura, iluminação de pontos cegos, libertação e restauração da potência.

O que existe em cada indivíduo, o que está a serviço dele, e o que ele quer fazer com isso?

CARREIRA • LIDERANÇA • RELAÇÕES • AUTOCONHECIMENTO