02/12/2025
O mundo está cansado — mas é um cansaço que não descansa. Vivemos exaustos de fazer, de provar, de controlar. Aceleramos tanto que confundimos morte com descanso. Queremos morrer não porque a vida perdeu o sentido,
mas porque o sentido foi sequestrado pela pressa.
Byung-Chul Han me ensinou que o homem contemporâneo não é explorado por um tirano, mas por si mesmo. É o sujeito que se cobra até morrer — e chama isso de autonomia.
A eutanásia, nesse cenário, é o gesto final da sociedade do desempenho: a vida inteira tentando ser produtivo, e no fim, a pressa em produzir a própria morte.
Mas morrer “por escolha” nem sempre é liberdade. Às vezes é só a coerência final de uma vida vivida como planilha,!onde tudo parecia estar sob controle. A verdadeira liberdade não é decidir o fim, é poder parar — demorar-se, descansar, respirar, aceitar o cuidado e a vulnerabilidade sem vergonha.
Cuidar é o último ato de lentidão possível.
É o gesto que devolve profundidade à vida
num tempo que só sabe ser raso. O cuidado não é o oposto da morte — é o que devolve humanidade ao morrer.
O mundo não precisa de mais autonomia.
Precisa de demora. De mãos que sustentam, olhos que não desviam, silêncios que acolhem. Enquanto houver quem se demore cuidando da dor de alguém, a humanidade ainda terá salvação.
Texto de autoria de Dr Ana Cláudia Quintana Arantes
📸 Para refletir sobre a nossa condição humana atual, que viver fora pressão social de performance nas redes tbm pode ser legal e natural. Sem cansaço de existir.