14/10/2019
Diariamente, na clínica, estamos diante de situações em que pacientes não somente sentem dor, mas sentem medo relacionado a movimentar, por terem tido experiências prévias de que aquele movimento foi o evento incitador da sua condição real. Um exemplo: essa semana que passou, atendi um paciente com quadro de lombalgia subaguda, desencadeado depois de um movimento de inclinação do tronco anterior para pegar seu bebê no berço. O paciente foi parar no hospital e submetido a TC, onde foi detectada uma profusão discal. Bom, a realidade para esse indivíduo mudou, agora ele é portador de uma condição limitante. Veja, “eu não posso mais ajudar minha esposa nas noites, por ter uma hérnia fiscal, que pode a quer momento romper”. Como será que ele formatou esse raciocínio? Fatalmente através de informações prévias colhidas, o que altera seu comportamento perante o seguimento que o ameaça. Sua coluna lombar é o seguimento mais vulnerável de seu corpo, então ele tem que ficar atento, hipervigilante. O simples fato de pegar seu bebê lhe deixa apreensivo, pois muitas vezes ele tem que realizar essa tarefa embora tenha sido proibido a fazê-la. Seu comportamento hipervigilante e evitador é o produto de uma cognição formada por informações distorcidas a respeito da condição, “o medo da dor é pior que a dor em si”. Sabemos que áreas cerebrais responsáveis pela cognição inercambiando com áreas envolvidas com medo condicionado, áreas do foco e concentração, bombardeiam o córtex somatossensorial, facilitando vias sensitivas e motoras para “travar” seu seguimento, condicionando seu sistema de dor. Uma lombalgia aguda que, em tese, o prognóstico é favorável para o paciente, passa a um prognóstico sombrio, pois seu sistema de dor agora está convencido em ter que proteger seu seguimento em questão. Pesquisas recentes tem demonstrado mudanças estruturais no córtex somatossensorial “borramento” que pode disparar uma experiência de dor. Estamos agora diante de uma situação onde a afetividade relacionada a uma representatividade de dano é eminente. O terapeuta alheio a esse raciocínio clínico está fadado a um fracasso em sua reabilitação.
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