18/10/2022
“Calma, vai por aqui….”
Essa era uma frase típica de quando operávamos juntos.
Hoje, dia do médico, meu primeiro sem a sua presença para mandarmos as mensagens mútuas de de feliz dia do médico.
Mas os ensinamentos f**aram.
Mais que ensinamentos, f**a o legado.
E o maior legado, pai, está aqui dentro.
O maior legado não foi deixado em terras, propriedades ou herança financeira.
Sua marca ficou quando vemos que imensa quantidade de mensagens que recebi com frases que continham “foi seu pai que…”, ou então “sem seu pai, não sei o que teria sido de mim”.
Se não bastasse ler isso inúmeras vezes nessa última semana, como não me alegrar ao dizerem como me pareço com o senhor?
Não só fisicamente, mas principalmente pelo trato e maneira de ser com os amigos, pacientes, ou qualquer um que seja.
Eu sou seu, você é você.
Afinal, embora parecidos, muito diferentes em muitas coisas.
Eu mais objetivo nas cirurgias, fazemos assim e tá feito. O senhor, se bobear, operava assobiando.
Brincava e ria de mim que para usar um material ou um instrumento, tenho a mania de “bater” antes, como se fosse para limpar ou preparar a próxima marretada.
Se tinha algo que era reconhecido amplamente, além do seu zelo pelo próximo – principalmente crianças —, era sua destreza com as mãos.
Que destreza! Digno de cada cirurgia, para o senhor, era uma obra de arte.
Eu não sou muito da teoria, sou da prática.
E se Deus permitir essa destreza em minhas mãos, que elas sejam para servir ao próximo do mesmo jeito que o senhor me ensinou.
Ficam, nesse momento, três coisas que o senhor não abria mão de me lembrar sempre ao praticar a medicina:
- Não desista fácil de nada pois você é capaz.
- Calma que tudo vai se resolver.
- Honre e seja honrado, seja por uma palavra dita, um aperto de mão ou papel assinado.
Sendo que pra o senhor, o papel assinado era praticamente insignif**ante.
Hoje sem lágrimas, apenas sorrisos.
Se possível, com sua gargalhada única que deixava as bochechas rosas.
Nesse dia peço a Deus somente uma coisa: se seu amor ficou dentro de cada paciente e eu conseguir fazer o mesmo, tudo valeu a pena.
Seu filho, seu fã.
Paulo Júnior.