27/11/2025
Liberdade para Ser quem veio para ser... eis a questão e o sentido!!!
O pai dela proibiu que qualquer um dos 12 filhos se casasse.
Ela se casou em segredo, voltou para casa, jantou como se nada tivesse acontecido — e depois desapareceu para sempre.
Londres, década de 1840.
Elizabeth Barrett tinha 39 anos e estava morrendo — ou pelo menos era isso que todos acreditavam.
Durante anos, ela ficou presa em seu quarto no número 50 da Wimpole Street, uma inválida confinada a um sofá, sobrevivendo à base de morfina e láudano.
Seu problema, diziam, era a coluna, danificada em um acidente de cavalo aos 15 anos. Ou talvez fossem os pulmões. Ou os nervos.
Os médicos não concordavam.
Mas todos concordavam em uma coisa: ela não viveria por muito mais tempo.
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O Tirano
Seu pai, Edward Barrett Moulton-Barrett, controlava tudo.
Um tirano cuja riqueza vinha de plantações de açúcar na Jamaica, construídas sobre o trabalho escravo, ele governava seus doze filhos com autoridade absoluta.
Sua regra mais rígida: nenhum deles podia se casar. Jamais.
Ele nunca explicou o motivo. Apenas declarava — e isso bastava.
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A Poetisa
Então Elizabeth escrevia poesia.
Poesia extraordinária, que a tornou uma das escritoras mais celebradas da Inglaterra — mais famosa, na época, que o próprio Tennyson.
Mas ela escrevia de dentro de uma prisão feita de seda e morfina, observada por um pai que amava seu brilho, mas se recusava a deixá-la viver.
Até que uma carta chegou.
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A Correspondência
"Eu amo seus versos com todo o meu coração, querida Srta. Barrett", escreveu Robert Browning, um poeta mais jovem cujo trabalho ela admirava.
Ela respondeu.
Aquele único gesto tornou-se 574 cartas ao longo de 20 meses.
Robert escrevia sem parar — cartas apaixonadas, filosóficas, brincalhonas — tratando-a não como uma inválida, mas como uma igual. Como uma mulher cuja mente estava viva, mesmo que seu corpo estivesse supostamente morrendo.
Ele pediu para visitá-la.
Ela recusou. Era doente demais, reclusa demais, envergonhada demais de sua própria fraqueza.
Ele insistiu.
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O Encontro
Quando finalmente se encontraram, em maio de 1845, algo mudou.
Robert não viu uma mulher moribunda em um quarto escuro.
Ele viu Elizabeth — brilhante, feroz, presa.
Ele viu alguém que precisava ser libertada.
Ele pediu em casamento.
Ela disse que era impossível.
Seu pai jamais permitiria.
E mesmo que escapassem, ela era doente demais para ser esposa de alguém. Seria um fardo, uma responsabilidade, uma tragédia anunciada.
A resposta de Robert:
"Você é a pessoa mais forte que eu conheço."
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O Segredo
Eles começaram a planejar em segredo.
Em 12 de setembro de 1846, Elizabeth Barrett caminhou até a igreja de St. Marylebone apenas com sua empregada.
Robert Browning a esperava.
Casaram-se em uma igreja vazia, com apenas duas testemunhas.
Depois Elizabeth voltou para casa.
Ela entrou novamente no número 50 da Wimpole Street, jantou com sua família, foi para o quarto e agiu como se nada tivesse acontecido.
Durante uma semana inteira, manteve a farsa.
A filha obediente, a inválida frágil, incapaz de sair do sofá.
Então, uma noite, ela simplesmente foi embora.
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A Fuga
Ela levou seu fiel spaniel Flush, alguns pertences e a mão de Robert Browning.
Cruzararam o Canal da Mancha e desapareceram pela Europa.
Seu pai a deserdou imediatamente.
Devolveu todas as suas cartas sem abrir.
Nunca mais pronunciou seu nome.
Mas Elizabeth?
Ela descobriu que não estava morrendo, afinal.
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A Transformação
Em Florença, algo milagroso aconteceu.
O sol.
O calor.
A liberdade da casa paterna.
E Robert — que a tratava não como porcelana frágil, mas como a guerreira que ela sempre fora.
Sua saúde melhorou. Drasticamente.
A mulher que havia ficado de cama por anos começou a caminhar.
Viajar.
Viver.
Em 1849, aos 43 anos — idade em que os médicos já haviam desistido dela — deu à luz seu filho, Robert Wiedeman Barrett Browning, o Pen.
E escreveu. Escreveu como nunca.
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A Poesia
“Sonnets from the Portuguese” tornou-se uma das maiores obras do amor na língua inglesa.
Não porque os poemas fossem doces — mas porque eram verdadeiros.
"Como eu te amo?
Deixa-me contar as maneiras."
Esses versos não eram sobre ser salva.
Eram sobre descobrir que ela nunca precisou ser salva — apenas livre.
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A Revolucionária
Elizabeth não escrevia só sobre amor.
Na Itália, tornou-se politicamente ativa, defendendo com paixão a unificação italiana.
Escreveu “Casa Guidi Windows” sobre a revolução italiana.
Escreveu “The Runaway Slave at Pilgrim’s Point” — um poema feroz contra a escravidão, mesmo sabendo que a fortuna de sua família vinha das plantações escravistas.
Ela foi cogitada para o cargo de Poetisa Laureada — algo quase impensável para uma mulher.
Robert nunca a eclipsou. Nunca tentou.
Ele a celebrou, a incentivou, e permaneceu ao seu lado como parceiro igual em arte e vida.
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Quinze Anos
Eles tiveram 15 anos juntos.
Quinze anos que ela jamais deveria ter tido.
Em 29 de junho de 1861, Elizabeth Barrett Browning morreu nos braços de Robert, em Florença.
Tinha 55 anos.
Sobreviveu décadas além de todas as previsões médicas.
Seu pai havia morrido três anos antes — ainda recusando perdão.
Mas Elizabeth havia parado de esperar por esse perdão muito antes disso.
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O Que Ela Provou
Elizabeth Barrett Browning provou que:
Às vezes a doença não está no corpo — está na gaiola onde você é mantido.
Que o ato mais radical pode ser simplesmente escolher ir embora.
Que amor não é ser salva — é ser vista, de verdade, e escolher viver conforme essa verdade.
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A Verdade
Ela saiu da casa do pai aos 40 anos, supostamente fraca demais para sobreviver sem sua proteção.
Viveu mais 15 anos — viajando, escrevendo, criando um filho, mudando a literatura, apoiando revoluções.
O mais perigoso que seu pai já lhe disse foi que ela era fraca demais para viver sem ele.
O ato mais corajoso que ela já fez foi provar que ele estava errado.
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Elizabeth Barrett Browning
6 de março de 1806 – 29 de junho de 1861
Poetisa. Revolucionária. Sobrevivente.
Ela não precisava ser salva.
Ela só precisava ser livre.