07/09/2020
O medo, entrelaçado em todas as possibilidades do existir, é no viver que se descobre os medos e só através deles que nos fazemos mais vivos. Sempre penso que sentir com intensidade nossas emoções é um caminho tortuoso, conflitivo e muito amedrontador, um caminho com espinhos, nebuloso, turvo, com altos e baixos, nada linear e muito menos certeiro, mas possibilita a descoberta de novos caminhos, como aquela imagem em que se abre uma porta e mais outras inúmeras portas nos aparecem esperançosas para que nós tenhamos a ação de abri-las. Ali, vemos emaranhados caminhos, o medo rondando, pode despertar o súbito de quem somos!
Ah, mas não é fácil sentir medo, com ele aparecem mais um misto de sentimentos que as vezes a gente nem sabe nomear, dor, tristeza, insegurança, angústia, raiva, ódio... Mas será que não é só pelo sentir, o simples sentir, que nos tornamos humanos? O sentir como porta para experiências, permite com que convivamos com o nosso cru e nu, com a nossa lama, que por vezes enoja, por vezes fortifica.
Em tempos onde a negação da realidade é contrastante e desmedida, onde nossas mais poderosas defesas estão ativadas para amortificar nossas emoções, anestesiando onde puder ser anestesiado, sentir o medo torna-se sinal de fraqueza, é perturbador, não permitido. É mais fácil fugir, ou fingir que não existe, ou fingir que o tempo todo serei uma super-herói que domina e controla tudo e todos. Não preciso nem dizer que não é assim, não é verdade?! Precisamos perguntar com coragem "O que me faz sentir medo?" Como nos questiona Guimarães " O que é que a gente sente, quando se tem medo?" Talvez seja nas respostas encontradas (permita-se a descobrir respostas que não tem fim) que teremos nossas maiores possibilidades de vida, de expansão, crescimento, talvez ali mesmo, naquele lugarzinho mais temeroso e mal criado, seja o lugar que nos permitirá sonhar, encantar, criar.