02/03/2021
Estava recentemente conversando com uma amiga e ela me falou sobre seu receio quando soube que sua sobrinha seria uma "menina".
Como que "só" por ainda no ventre o exame de ultrassom ter identificado que havia uma va**na, aquela criança que ainda nem tinha crescido, já estava submetida a violências e opressões.
Naquele momento lembrei dessa frase de Laquer (2001, p.8) e das diversas vezes que na infância desejei ser "um menino" para poder sentar de perna aberta sem ninguém reclamar (sento até hoje), poder brincar sem mil recomendações e cuidados de mainha, poder ser só... criança.
Mas aí eu fui crescendo e entendi que eu não desejava ser "um menino", eu deseja ter a mesma liberdade e segurança que lhes foram atribuídas "só" por ter um p***s.
Ao longo da história da humanidade houveram diversos marcadores da diferença sexual, houve até um tempo (da antiguidade até final do século XVII) que se acreditava em um s**o único (o masculino!) Na época considerava-se que homens e mulheres tinham o mesmo órgão sexual (somente em 1759 foi feito o primeiro esqueleto feminino em livros de anatomia), porém os ditos "femininos" eram defeituosos, invertidos, enquanto o masculino era perfeito, podendo a mulher desenvolver o falo de maneira natural através do calor ou esforço físico. Assim, recai a nós a fragilidade (leia-se também feminilidade) disseminada até os dias atuais, não só no senso comum como também no meio acadêmico.
Contudo, vale ressaltar, que não foram somente as descobertas científicas as responsáveis por a mudança de "s**o único" para "s**o binário" e sim, um posicionamento epistemológico e político que buscavam, através do discurso sobre o corpo, a detenção do poder sobre mesmos para fins de controle social da população.
Mas e você, como percebe o falocentrismo [ falo (p***s) + centrismo (centro) = o p***s como centro ] no seu cotidiano?