05/07/2020
"Que as mulheres sejam vítimas da ideologia da maternidade significa dizer que não questionam a escravização voluntária ao lar e à família. O algoz é o inocente bebê, ele mesmo construído como objeto da suposta “natureza maternal da mulher”. Nesta ideologia, o amor materno é tratado como um dogma inquestionável da subjetividade daquela que não deseja mais nada além de ser a mãe perfeita. Esta ideologia sustenta que o vínculo entre a mãe e bebê é natural e que a cultura deve servir a ele. Amamentar torna-se uma obrigação sem a qual o filho pode perecer fisicamente ou sofrer danos psíquicos graves. No maternalismo, o filho é visto como se não fosse um ser social ligado também ao pai e aos outros membros da família e à sociedade. Se a mãe deve ser infalível, necessariamente culpada do que acontecer com seu filho caso ele não se comporte como impõe a regra. Claro que nesta ideologia não se leva em conta que existem tantas mulheres quanto desejos, que cada pessoa é um indivíduo singular. Pois a pensar assim não há como sustentar a “essência feminina”, sem a qual não há ideologia maternalista".
Trecho retirado da apresentação do livro de Elizabeth Badinter (2011) e escrito por Marcia Tiburi.
(Débora Andrade & Nayara Feitosa)