03/12/2025
Ao contrário do que muitos pensam, a terapia não é um socorro apenas para momentos de crise. Ela é um processo de construção interna, silencioso e persistente, que atravessa o cotidiano e ressignifica nossa forma de existir. No espaço terapêutico, a pessoa aprende a habitar sua experiência psíquica com mais consciência. Isso significa reconhecer o que sente antes de tentar eliminar a sensação. Significa sustentar perguntas sem apressar respostas. E entender que nem tudo que nos dói precisa ser “curado”, algumas dores pedem apenas que sejam escutadas, nomeadas e atravessadas.
Com o tempo, esse trabalho clínico se desdobra para além da sessão. A escuta que antes era conduzida pelo analista começa a se interiorizar. O julgamento cede lugar à curiosidade.
A terapia ensina, por exemplo, que pensamentos não são verdades, são construções. Que muitas vezes confundimos interpretação com fato, passado com presente, desejo com obrigação. Ela afina nossa escuta para as pequenas distorções cotidianas que sabotam a saúde emocional e perpetuam padrões de sofrimento. E, talvez o mais importante: ela nos convida a renunciar à fantasia de controle absoluto. A vida não será plenamente resolvida mas pode ser mais bem compreendida. Não se trata de eliminar o conflito, mas de encontrar outros modos de habitá-lo.
Por isso, sim: a terapia é um estilo de vida. Porque ela transforma a forma como atravessamos o mundo. Não nos torna invulneráveis, nos torna mais conscientes do que nos atravessa, mais capazes de sustentar o que sentimos sem nos dissolvermos.
Ser acompanhada por um processo psicanalítico é, em muitos aspectos, dizer sim a um modo mais profundo e real de viver. E esse sim se reflete na maneira como nos relacionamos, escolhemos, reagimos, sentimos e até nos calamos.