02/04/2020
Uma quarentena pede um isolamento de corpos, quando o silencio e o abismo que há entre cada um de nós se faz presente, somente consigo ouvir o coro de um desespero dos mais diversos tipos, que tenta incansavelmente dar nome ao que cada um sente.
A nossa casa é onde a gente se desnuda, e a nossa fragilidade f**a mais exposta aos nossos olhos. E agora, que se recolher em casa passa a ser um ato de sobrevivência, quais as ressonâncias disso?
Às vezes, o lugar onde poderíamos estar e ser mais livres é onde nos sentimos presos. Para alguns f**ar em casa é estar a beira do intolerável e insuportável da solidão. Para outros, parece apaziguador ou libertador do corre-corre da vida.
Sim, o laço social é importante, mas a rede social também pode ser laço, porém minha leitura sobre ela é que existe uma interferência, um nó, centenas de linhas cruzadas que NÃO SE OUVEM.
Hoje temos muitas lives diárias de como viver durante a quarentena, cursos, entretenimentos, maratonas, muita coisa, inclusive, muita coisa interessante… mas MUITO!
E em meio a uma restrição, surgem então os excessos!!
Toda essa “ajuda” ao outro me faz pensar sobre o quanto ajudar o outro pode trazer um ilusório conforto para si mesmo.
Nesses dias atuais é fácil se perder, mas são dias que também pedem um ENCONTRO com nós mesmos, entre um intervalo a outro dos dias que nos aproxima e nos afasta da morte, a vida exige de nós uma invenção ou a coragem, como bem diz Guimarães Rosa. O tempo de compreender o recolhimento (o que tem um grau de dificuldade pra cada um) exige de nós o acolhimento do mal estar e da nossa fragilidade pra dar dignidade aos nossos afetos.
O que se pode extrair disso? Cabe a cada um criar suas soluções para lidar com esse tempo, tempo de como questionar, repensar, aquietar.
É importante que cada um pense o que pretende fazer com isso.
“Construímos uma vida sem colocar na conta a finitude...” - Lucélia Gonçalves