01/07/2025
Ayahuasca no SUS: o Caminho da Medicina Ancestral ao Sistema Público de Saúde
Uma tradição milenar à beira do reconhecimento oficial
O uso medicinal da ayahuasca, bebida sagrada de diversos povos originários da Amazônia, não enfrenta entraves legais no Brasil. Sua prática é reconhecida pelos Ministérios da Saúde e dos Povos Indígenas, e uma resolução de 2023 do Conselho Nacional de Saúde determina que ambas as instituições atuem para integrar essa e outras práticas ancestrais à Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (Pics) do SUS.
Esse movimento também visa reconhecer oficialmente o trabalho de pajés, raizeiros, rezadores, curandeiros e parteiras indígenas como categorias profissionais, valorizando o saber ancestral como ferramenta legítima de cuidado e cura.
O paradoxo do SUS: acupuntura sim, ayahuasca não?
Apesar do avanço institucional, há um contraste gritante no sistema. Como questionou o psiquiatra Ricardo Moebus, da UFOP:
> "Como é possível que uma pessoa tenha acesso à acupuntura, que é chinesa, ao reiki, japonês, à homeopatia, alemã — e não às medicinas ancestrais brasileiras, como a ayahuasca, a jurema, a sananga, os rapés e o kambo?"
Enquanto práticas estrangeiras já são oferecidas na rede pública, as medicinas indígenas — nascidas no solo brasileiro — seguem, em sua maioria, excluídas das políticas públicas.
O acesso restrito: entre o sagrado e o privilégio
Hoje, a classe média mais informada e os mais ricos (muitos estrangeiros) são os principais beneficiados por essas medicinas, segundo o neurocientista Sidarta Ribeiro. Cerimônias com ayahuasca têm sido organizadas por pajés em grandes cidades, mas, por conta dos custos e da complexidade dos rituais, o acesso ainda é limitado àqueles que podem pagar.
Diante disso, Ribeiro questiona:
> "Se os pajés estão atendendo quem pode pagar, por que o SUS não os convida para ajudar comunidades vulneráveis como a Maré, o Complexo do Alemão ou Paraisópolis?"
(continua nos comentários)