14/01/2025
Me detive hoje na lição 17 do seminário 9 de Lacan. Estudos para o cartel, sobre a identificação em psicanálise. Que seminário complexo!
É tão comum, para quem se propõe a trabalhar com psicanálise lacaniana, se debruçar e matutar uma vida toda para, pedaço por pedaço, construir sua experiência, no tecido da práxis - que costura teoria e prática clínica - e, aos poucos, notar que vai sabendo alguma coisa, e depois outra, e depois outra…
Lacan retoma, nessa lição, a lógica dos círculos de Euler, a teoria dos conjuntos, reunião e intersecção, para nos expor um paradoxo: se, como diz Lacan, um conjunto não se compreendem eles próprios, “devemos incluir ou não esses conjuntos que não se compreendem eles mesmos, no conjunto que não se compreendem eles mesmos?” (p. 259).
Para responder esse paradoxo, Lacan se desdobra rumo à topologia, na figura do toro e do oito interior. E me ficou o seguinte vislumbre: dentro de determinadas propriedades lógicas, no limite, dois campos são e não são do mesmo conjunto.
Lembro da clínica. Ouvimos como se forma o “ser” que cada analisando chega narrando que é seu, seu jeito, o que já sabe de si mesmo. Se nos constituímos por meio do campo do Outro, aquilo que é do “eu”, em alguma medida, nesta lógica exposta por Lacan, é também o Outro.
Será que o caminho que proporciona uma análise é o de separar-se radicalmente do Outro e descobrir o “verdadeiro eu”, ou está para um inventar uma maneira outra, diferente da já sabida - que, geralmente, funciona mal - para saber fazer com os mesmos elementos?
Afinal, no limite, é indiscernível o conjunto A do conjunto B, o exterior, do interior. O que não quer dizer, de maneira alguma, que não haja possibilidade de manejo dos elementos. Ou mesmo de invenção em suas possibilidades.
Penso que a análise caminha em direção às possibilidades. E que bom! Assim, é possível haver fluidez.