29/04/2019
Na última quinta-feira fomos surpreendidos com o artigo intitulado: Formas de tratamento sem base teórica e sem comprovação científica, publicado na página do facebook do LIFPA-FMUSP e divulgado amplamente nas redes socias.
Mesmo não havendo uma referência explicita ao SENA© tal artigo foi compartilhado com pessoas que utilizam ou estão interessadas na Estimulação NeuroAuditiva. Por essa razão nos sentimos no direito e no dever de esclarecer alguns aspectos mencionados no artigo.
Em relação à audiologia clínica:
A audiometria tonal de via aérea é um teste subjetivo. Isto implica a participação consciente do sujeito examinado que deve dar uma resposta quando o estímulo é apresentado. A resposta requer a participação do sistema motor quando o estímulo se torna consciente, isto é, atinge o córtex auditivo do paciente. Por essa razão, para o paciente poder responder ao estímulo é necessário ativar a função executiva de atenção, função que interfere no resultado do teste. Se o sujeito não está atento, ele não responde ao estímulo. Este fato nos mostra que a audiometria avalia o sistema auditivo periférico com a participação de toda a via auditiva central, sendo assim não avalia apenas a cóclea como dá a entender no artigo.𝟏
Por isso, após a realização da estimulação neuroauditiva os valores da audiometria MUDAM num sujeito com os limiares dentro da normalidade, NÃO por que a estimulação tenha alterado o limiar, mas porque houve uma melhora das habilidades auditivas do paciente, o processamento é mais rápido e com maior atenção, melhorando sua habilidade na realização da prova. Um exemplo disto são os pacientes que não conseguem realizar audiometria e após a estimulação conseguem executar a prova apresentando respostas consistentes.
A grande maioria das fonoaudiólogas que aplicam a estimulação neuroauditiva no Brasil não são as responsáveis pela realização das audiometrias tonais. Sugerir que as mudanças geradas pelo SENA© são consequências de um exame mal realizado por fonoaudiólogos, é colocar em questão a competência de tais profissionais. Vale ressaltar que dentro da estimulação neuroauditiva variações de 5 dbs não são levadas em consideração.
Em relação à reabilitação do processamento auditivo:
A atividade elétrica na via auditiva central começa na cóclea, o órgão de Corti, onda I do potencial evocado de curta latência. No entanto, podemos afirmar que a via tem sua origem nos núcleos cocleares do tronco cerebral, onda II do PEATC. A partir da onda II até as ondas P200 e N200 o estímulo é totalmente inconsciente para o paciente, o que significa que ele não tem nenhum controle sobre a atividade da via auditiva nesse trecho. Por esse motivo, esse processamento é conhecido como bottom-up. A partir das ondas P3a e P3b (P300) o processamento se torna consciente, o estímulo é percebido e é iniciado o processo de resposta ao estímulo, processamento conhecido como top-down.
No PEALL, prova eletrofisiológica que avalia a capacidade de discriminação e processos de habituação ao ruído de fundo para melhorar a atenção quando temos sinais competitivos, as ondas N200 e P200 respectivamente, são previas ao processamento consciente do estímulo. Este fato explica por que é tão difícil melhorar as habilidades de discriminação fonológica, pois quando o sujeito está ciente do estímulo, ele já não pode ser modificado.
Quando emitimos a sílaba /ba/ e o sujeito responde /pa/, é porque o sistema auditivo do paciente não foi capaz de reconhecer o contraste sonoro, na avaliação eletrofisiológica deveria ter sido reconhecido em aproximadamente 200ms (N200) depois do estímulo apresentado, em um trecho da via auditiva alheia à consciência do sujeito.𝟐
Outro exemplo é a habilidade de localização da fonte sonora. A estrutura neurológica responsável por essa função em processamento pré-consciente é o complexo olivar superior localizado no tronco-encefálico.𝟑 A habilidade depende que o limiar nos sons de baixa frequência seja o mesmo nos dois ouvidos.𝟒
Reafirmamos que, o objetivo do SENA© é analisar e estimular as estruturas responsáveis pelas habilidades que são inconscientes para potencializar a melhora das habilidades conscientes, COMPLEMENTANDO as abordagens existentes na Fonoaudiologia, seja na avaliação ou na reabilitação.
Em relação a afirmação que: “a estimulação com atividades passivas como escutar sons de qualquer origem (modificado ou não) sem o paciente prestar atenção, não melhora as habilidades auditivas”:
Dentro bibliografia apresentada não há nenhum artigo que afirme que o SENA© não melhora as habilidades auditivas dos pacientes. Para tal afirmação é necessário realizar pesquisas que comprovem isso. Por essa razão, após substancial evidência clínica, várias pesquisas estão sendo realizadas em Universidades Brasileiras. Para isto, SENA-Brasil© incentiva as pesquisas e fornece o suporte necessário para que as instituições interessadas realizem pesquisas sérias e imparciais. Estendemos o convite para que o LIFPA-FMUSP avalie a efetividade da estimulação neuroauditiva no processamento auditivo.
Informamos que este será o único pronunciamento sobre esse tema, a publicação e o fomento de discussões nas redes sociais não fazem parte da política de SENA-Brasil©.
Ficamos à disposição para qualquer esclarecimento nos nossos canais de atendimento.
Atenciosamente,
Jordi Galceran
Autor de SENA©
Enro G. Venturella
Diretor administrativo SENA-Brasil©
Bibliografia:
1. Salesa, E., Perelló, E. y Bonavida, A. (2005) Tratado de audiología. Barcelona. Elsevier Masson
2. Redolar, D. (2014). Neurociencia cognitiva. (2nd ed.). Madrid. Médica Panamericana.
3. Kandel, E.R., SchwartzJ.H., JesselT.M. (2000) Principios de Neurociencia. Ed. McGraw-Hill Interamericana.
4. Moore, B. (2013). An introduction to the psychology of hearing (6th ed.). Boston: BRILL.