15/05/2017
"A mãe suficientemente boa é imperfeita, falível, pois não é um robô, nem um amontoado de técnicas. Ela erra várias vezes ao dia, mas não desiste de buscar as melhores maneiras de cuidar amorosamente de seu bebê. Ela ama incondicionalmente o filho, mais do que tudo, mas por momentos também odeia suas intermináveis exigências e canta: “Boi, boi, boi, boi da cara preta, pegue essa criança que tem medo de careta...” num tom de voz suave, protegendo-o de seu humor alterado, pois sabe que ele não o suportaria. Sabe que ele precisa dela, que precisa confiar nela pra poder confiar nas coisas e no mundo; exaspera-se, f**a aturdida, mas nunca o abandona ou o deixa na mão. Cansa-se e quer sumir, mas isso passa, tudo passa; e ela não deixa de encantar-se e divertir-se com ele". , ,
Às mães: uma singela homenagem
Se um dia você dedicou-se inteiramente aos cuidados de um bebê pequeno, seja você uma mãe biológica, adotiva, uma mulher, um homem, uma babá, parente ou amigo da família, de agora em diante nesse texto te chamarei de mãe.
Winnicott, psicanalista e pediatra, avaliou e estudou, durante 40 anos, o enorme valor do ambiente e da relação mãe/bebê no início da vida. Ele criou o termo “mãe suficientemente boa”, referindo-se a todas as mães devotadas comuns, heroínas anônimas que, durante um período de suas vidas, sem alardes, abrem mão de si, se responsabilizam plenamente e cuidam de um bebê pequeno.
A mãe suficientemente boa adapta-se enormemente às necessidades do filho absolutamente dependente no início da vida e, gradativamente, vai se desadaptando, até que sua presença concreta passa para um segundo, terceiro plano conforme ele cresce e incorpora os cuidados, ganha segurança no mundo e conquista maior independência. Ela não se ressente com isso, saboreia também esse trecho, alarga novamente seus horizontes e retoma seus interesses.
Mas quando o bebê é bem pequeno, a mãe suficientemente boa estreita seu mundo: identif**a-se com o filho, coloca-se no lugar dele, pois um dia já esteve vulnerável e absolutamente dependente de alguém que cuidou dela. Empática às necessidades do recém-nascido, não derrama sobre ele as suas próprias, nem as do mundo. Sabe que o nenê precisa de um tempo até poder adequar-se; no início, ele precisa entrar em contato com as coisas a partir da própria onipotência, criatividade e excitação. Por isso, ela não o submete às demandas externas, ao contrário: afina-se, sintoniza e atende aos gestos do bebê e, a partir deles, apresenta-lhe o mundo, em pequenas doses.
Ela sabe também que seu nenê não é um reloginho ou uma maquininha de mamar de três em três horas: como uma cigana, oferece o seio, ou a mamadeira, atendendo ao choro da fome, que aprende a reconhecer. E por não se assustar com a excitação do bebê, não precisa embotá-lo ou seduzi-lo com seu leite para apaziguá-lo toda vez que chora; reconhece que ele tem outras necessidades.
Intuitivamente, a mãe sabe também que o bebê muito pequeno não precisa de estímulos artificiais, pois não é uma maquininha de fazer conexões neuroniais! Ele precisa, sim, de contato, de intimidade, e é isso que ela lhe oferece, naturalmente. Da comunicação e do contato entre eles, surge todo o resto, a curiosidade espontânea pelas coisas, o espaço intermediário do brincar.
A mãe suficientemente boa é imperfeita, falível, pois não é um robô, nem um amontoado de técnicas. Ela erra várias vezes ao dia, mas não desiste de buscar as melhores maneiras de cuidar amorosamente de seu bebê. Ela ama incondicionalmente o filho, mais do que tudo, mas por momentos também odeia suas intermináveis exigências e canta: “Boi, boi, boi, boi da cara preta, pegue essa criança que tem medo de careta...” num tom de voz suave, protegendo-o de seu humor alterado, pois sabe que ele não o suportaria. Sabe que ele precisa dela, que precisa confiar nela pra poder confiar nas coisas e no mundo; exaspera-se, f**a aturdida, mas nunca o abandona ou o deixa na mão. Cansa-se e quer sumir, mas isso passa, tudo passa; e ela não deixa de encantar-se e divertir-se com ele.
A mãe suficientemente boa não é moralista. Durante um longo período as demandas continuam, mas ela sobrevive a elas e aos ataques do bebê, continua confiável e viva até que, com o tempo, ele dá-se conta, naturalmente, da existência da mãe como um ser separado que não está ali só para servi-lo. A criança descobre que a mãe, como ele, tem necessidades, desejos, sentimentos, e passa gradativamente a importar-se com ela, a lhe oferecer pequenos, singelos presentes e a querer retribuir. A mãe os reconhece e os recebe com alegria, pois, quando isso acontece, sabe que trouxe ao mundo um pequeno cidadão.
Parabéns a todas as mamães!!!
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