03/10/2021
_O_SUJEITO_OU_ALGORÍTIMO_
Num de seus vídeos, Emanuel Aragão () trabalha uma ideia interessante sobre a relação dos sujeitos com o mundo dos aplicativos. Parte da hipótese de que o ser humano é uma máquina de previsão. Está permanentemente atento ao que acontece de NOVO quando interage com o mundo ao seu redor. Em suma, o humano seria fundamentalmente uma máquina de processar e registrar novidades.
Entretanto, os algorítimos dos aplicativos, diferente do mundo real, registram as ações dos humanos nas redes e lhes devolvem a REPETIÇÃO, e não a novidade. Dessa forma, a função mais fundamental da mente humana acabaria atrofiada, resultando em sensação de tédio, vazio, falta de sentido.
Mas tudo pode ser pior. A segunda volta no parafuso, ainda mais preocupante, é que os usuários dos aplicativos parecem, cada vez mais, replicar a lógica do algoritmo. Se nas relações humanas ainda havia um grau de novidade em cada encontro, agora a repetição reina absoluta.
Se antes era a tela do celular que lhe devolvia a repetição, agora é seu tio com um discurso político padronizado e previsível; o match do Tinder com roteiro pronto de abordagem; os rostos “harmonizados” para se tornarem o mesmo; o s**o que reproduz a estética pornográfica.
Se no início a tela passou a repetir o sujeito, agora o sujeito passa a repetir a tela. Afinal, a subjetividade é constituída a partir do Outro e, atualmente, as telas são o Outro de cada um. Quais serão os efeitos dessa inversão, para o indivíduo e para as relações? O que será de um psiquismo que perde a experiência com o que Christopher Bollas chama de "objeto transformacional" e que, agora, é o "objeto repeticional"?
Para Lacan, o próprio conceito de "desejo" implica a ideia de quebra da repetição, de algo que opera para que algo de novo se produza na cadeia significante do sujeito.
Na era da repetição será impossível pensar a contemporaneidade sem considerar as contribuições da psicanálise. Não por acaso, num episódio de Round 6, série da Netflix que repete fórmulas que já funcionaram na plataforma, aparece um livro de Lacan sobre a mesa.