26/06/2018
Quando duas pessoas se encontram e percebem que foram feitos um para o outro, mesmo sem nunca terem vivido juntos, na verdade o que se encontra é o conteúdo fantasmático/imaginário idealizado por ambos os indivíduos. Cada sujeito traz consigo uma ideia de quem o outro é. Essa ideia na fase de enamoramento/paixão é alimentada pelas fantasias, desejos, pelo que se espera que o outro seja. Deste modo, o encontro de duas almas na verdade é o encontro de expectativas individuais que se retroalimentam no início de qualquer relacionamento. Há o sentimento de completude, que o outro lhe satisfaz completamente e que esse outro foi feito para você (Famosa metade da laranja, tampa da minha panela, etc).
Contudo na trajetória da vida a dois, o indivíduo vai conhecendo quem realmente é aquele ou aquela pela qual se apaixonou. Ele se depara com suas qualidades e defeitos, com a forma como a pessoa age no dia a dia, como enfrenta as dificuldades, como recebe as conquistas, tanto individuais quanto do casal, entre tantas outras coisas. Assim, ao longo da relação o indivíduo se depara com quem o sujeito é na realidade, porém se tem todo um “personagem”, uma fantasia criada e alimentada há muito tempo. Diante disso, muitas vezes surgem conflitos, desentendimentos, a sensação de que a pessoa não é mais a mesma pela qual o indivíduo se apaixonou e pode haver o desejo de que o outro volte a ser quem era na época do início do namoro.
É importante pensar que no transcorrer da vida ocorrem diversas mudanças e as pessoas também vão se modificando, provavelmente o indivíduo também não é mais a mesma pessoa pela qual o parceiro ou parceira se apaixonou. E possivelmente a forma como se relacionam também mudou. Às vezes essas transformações ao longo da vida, as obrigações, o corre-corre cotidiano não permitiram que ambos parassem e refletissem sobre o relacionamento, sobre o como o sujeito é com o parceiro/parceira ou como se sente compartilhando a vida com essa outra pessoa.
Às vezes o indivíduo pode se sentir incompreendido ou insatisfeito com o relacionamento, mas ainda sente que algo o une à outra pessoa, mas não sabe como é possível ainda estarem juntos. Desta forma, se chegou a este ponto e o casal possui a vontade de compreender o que aconteceu ao longo da história do relacionamento, se ainda é possível ouvir o outro, se apaixonar pelo o que o outro realmente é e não mais pela ideia construída há tempos atrás. Nestes casos a psicoterapia de casal pode ajudar o casal a tomar consciência e entender a relação que construíram, a forma como se relacionam e escolherem conscientemente sobre qual rumo desejam tomar para a vida conjugal.
Afinal, o relacionamento amoroso é uma eterna construção à dois.