14/09/2021
Theo era assim quando foi diagnosticado com autismo. Tinha 1 ano e 11 meses. Era um bebê. E logo entrou nas intervenções indicadas pelo médico “bambambam” que lhe deu o laudo.
Era um bebê, mas já foi colocado em uma mesinha, naquela intervenção ABA completamente inflexível e zero lúdica pra uma criança tão pequena. Suas estereotipias/stims eram contadas e anotadas. Na época, eu não entendia nada de nada, mas já achava estranho o fato dele bater no peito ser tão preocupante quando ele ainda não falava, tinha interação precária, e não atendia a comandos verbais.
Esse “ABA ruim” perdurou por alguns anos em diferentes ambientes e deixou sequelas.
Theo encara qualquer brincadeira ou jogo novo como tarefa a ser cumprida.
Theo tem um profundo sentimento de incompetência e, geralmente, tem crises com as atividades novas, pois imagina que esperam que ele acerte sempre.
Não se pode dizer um “muito bem” ou “isso aí” perto dele que ele bate palmas, completamente automático e robotizado.
Quando tentamos mostrar figuras pra ele - como uma sequência de instruções ou mesmo uma historinha - f**a apontando freneticamente, quase como se isso fosse esperado dele.
Theo, aos 13 anos, tem uma dificuldade absurda em fazer escolhas. Elas podem gerar crises. Porque ele foi ensinado a vida inteira a obedecer comandos, e não a ter autonomia pra escolher.
Escrevo isso com muita dor. Tento jogar fora a culpa, já que fiz o que podia com as informações que tinha na época, mas é claro que não é fácil.
Hoje, eu fico de olho em absolutamente todas as intervenções que ele faz. Ele já fez e ainda faz intervenções baseadas em ABA desde então, mas agora eu tenho bagagem suficiente pra avaliar os profissionais e a forma como aplicam. Se é lúdico, se é respeitoso, se o foco está em adquirir habilidades importantes, construir autonomia, e não em fazê-lo caber em uma forminha que não é do tamanho dele.
Passou da hora de aplicarmos a noção de direitos humanos às intervenções usadas em crianças com deficiência.
P.S: não guardo mágoas. Prefiro acreditar que o tempo passou e as terapeutas tb adquiriram esse entendimento.
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