18/09/2025
O que a clínica contemporânea nos lembra é simples e doloroso: a tentativa de exílio interior revela algo do inconsciente que não se resolve com deslocamento geográfico. Transferência não se dissolve por mudança de endereço; o que repetimos em silêncio nos acompanha como eco. A cura - se é que podemos chamar assim - passa por nomear a falta, reconhecer a forma do desejo que insiste, e se sentar com a inquietação em vez de empacotá-la.
Digo isto em tom quase pessoal porque sei que a urgência de partir corre nas veias de quem quer se salvar depressa. Sei também que há um gesto heroico em tentar: procurar significado, procurar alívio, procurar um lugar sem as marcas. Mas o que denuncia essa procura é a crença de que o “lugar certo” nos vai livrar de nós mesmos. E essa crença falha. Falha porque quem chega primeiro ao destino é sempre o próprio sujeito com suas contradições, suas memórias, seus modos de amar e de ferir.
Talvez a pergunta não seja “para onde ir?” e sim “o que me persegue quando eu penso em ir?” - e então escutar essa perseguição. Talvez a busca seja sobre um vazio que eu não sei bem direito qual seria; talvez o vazio tenha nome, talvez seja silêncio, talvez seja medo, talvez seja saudade de algo que nunca aconteceu. E tudo bem não saber. Tudo bem sentir. Tudo bem voltar a si devagar.
Acho que talvez olhar para a fuga com gentileza , perguntar ao desejo o que ele quer quando pede distância e, se for possível, trazer a fuga para para a palavra, para a escuta, para a sessão(?). Porque é na companhia das palavras que o plano de fuga se torna menos absoluto e a presença, mais possível.
Onde quer que a gente vá, a gente estará.
E se ficar é risco, partir também é.