21/11/2025
A separação entre mente e corpo é uma crença a ser superada, e os consultórios médicos são testemunhas de que essa divisão não se sustenta na experiência humana - para o desespero de profissionais descrentes e despreparados, e de pacientes resistentes e mal informados.
Suzanne O'Sullivan, a autora de Isso é coisa da sua cabeça: Histórias verdadeiras sobre doenças imaginárias (2016), é uma neurologista e neste livro ela compartilha a sua experiência com os transtornos dissociativos. Um material riquíssimo para pensarmos a dimensão da complexidade desses fenômenos em que a palavra falha - como diz Freud no caso Dora - e o corpo se torna um recurso de expressão e manifestação, onde o sintoma carrega uma mensagem que o próprio mensageiro desconhece. Eis outra grande contribuição de Freud, que nos ajuda a pensar esses casos: O Eu não é senhor em sua própria casa (Uma dificuldade da Psicanálise (1917))
Esses casos não são poucos, nem raros. Mas se deparam:
- com a dificuldade de um diagnóstico assertivo;
- com a falta de consenso entre profissionais que passam pelo caso;
- com a falta de acolhimento de profissionais que desacreditam dos efeitos dos afetos no corpo e invalidam a experiência e a história do sujeito que sofre;
- com o preconceito social que torna loucura, invenção ou atuação um padecimento que é real, dificultanto o recebimento e a aceitação do diagnóstico e, consequentemente, inviabilizando a aquisição de informações, a busca pelo tratamento adequado e piorando o prognóstico do caso.
Da minha leitura, f**a a importância do trabalho que nós, psicanalistas, realizamos ao devolver o poder à palavra; da necessidade de buscarmos conhecimento para que não sejamos parte do grupo de profissionais que desamparam o paciente no caso; e da nossa possibilidade de contribuirmos com a produção de conhecimento nesta área.
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Mariane Gobbi
Psicóloga (CRP 08/26260) & Psicanalista