07/02/2020
Se Capitu traiu Bentinho? Não sei. Mas como pode tanta vivacidade desmanchar tão rapidamente? Será que Machado nos convida a perceber que toda aquela efusividade era apenas alegria das primeiras grandes descobertas? Afinal, Santiago precisava juntar o começo e o fim. Talvez, então, eles se liguem e mostrem que, na verdade, a vida de Santiago não era sua. Ela era ocupada e dirigida, ora pela promessa da mãe, ora pelas tantas coisas da belíssima Capitu e por seu grande amigo Escobar, mas não por si mesmo. E Machado não diz isso, ele o pinta. Saímos do livro permanecendo na história, mais precisamente na dúvida: Capitu traiu? Exato. Preciso. Machado é cirúrgico. A vida de Bentinho se resume ao que não é dele. As memórias levam à grande questão: o que o outro fez? Bentinho nasce e vive apagado. Nasce para cumprir promessa e não a cumpre apenas por estratégias alheias. Tem rompantes de ciúmes que vêm nos preocupar, tensionar e imaginar que há vida ali, para depois reafirmar que não há. Trata-se sim de um relato autobiográfico, cuja texto mostra que o biografado carece de vida, permanecendo o leitor na dúvida do que fez Capitu. E Bentinho? Bentinho não há.