29/07/2021
Aos meus amigos de longa data e clientes mais fiéis.
Dizem que família a gente não escolhe; família vem pra gente feito pacote do destino: o negócio é abrir e aceitar o que vem dentro, sem direito à devolução. Mas a verdade é que família a gente pode escolher, sim. A Santa Cruz foi pra mim, nesses últimos 45 anos, uma grande família por opção, a minha família do coração, aquela que esteve ao meu lado diariamente das 8 da manhã às 8 da noite, uma família imensa, com centenas de pessoas que acompanharam a história da minha vida e viram as rugas do tempo tomar o meu rosto junto com a minha família de sangue, meu marido Alceo e minha filha Roberta.
Nesses 45 anos de Santa Cruz minha filha nasceu, cresceu e teve seu próprio filho. Na minha família Santa Cruz vi bebês crescerem como minha filha, vendendo milhares de chupetas e latas de Leite Ninho aos domingos. Durante as vendas, trocávamos conselhos sobre como baixar a febre e curar as terríveis dores-de-barriga de nossas crias. Essas mães se tornaram minhas amigas, assim como seus filhos e os filhos de seus filhos, que comigo compraram os mesmos remédios para cólicas e gases que suas mães tinham comprado nos balcões de madeira anos antes. Cada caixa de remédio que eu vendi, cada embrulho de presente de Natal que fiz, cada chocolate e mimo que dei a uma criança no balcão, cada jornada de trabalho meu foi sempre muito mais do que simplesmente meu ganha-pão. A Santa Cruz foi minha família e, assim sendo, foi, durante 45 anos, a minha vida inteira.
E que vida! A vocês, minha família, meus clientes, meus amigos, só tenho a agradecer pelo valor imensurável de tudo o que compartilharam comigo: sua confiança, sua lealdade, seu carinho, sua amizade, seus anos e gerações de famílias mendenses ao lado do meu marido Alceo, ao meu lado, ao lado de meus funcionários. A gente estava lá, atrás do balcão, separados por madeira e vidro, mas eu me sentia o tempo todo junto de vocês. Levava pra casa suas histórias, suas lutas, suas vitórias e derrotas, suas vidas. Porque é isso que família faz: f**a unida, mesmo que só em pensamento.
Eu acho que parte de mim vai ser pra sempre a Dona Adelaide da Santa Cruz. Isso é história e história não se apaga. Mas parte da Adelaide também quer - e precisa - voar pra horizontes mais amplos. Parte de mim também precisa de repouso. A Santa Cruz vai continuar no mesmo lugar, dando continuidade às histórias de hoje, fazendo novas histórias, se conectando com as famílias mendenses e criando laços fortes e duradouros mesmo que o nome e a embalagem dela sejam outros. Ciclos se fecham e nomes se vão, mas história é história, e história e família não se apagam.
Vocês moram em meu coração e em minha memória, meus amigos. E estarão comigo pra sempre.
Um grande abraço,
Adelaide.
