19/07/2021
Muitas pessoas acreditam que em uma sessão de análise nós iremos descobrir algo realmente novo sobre nós mesmos. Acreditam também, que vamos entrar em contato com fantasias se***is submersas em um mundo inconsciente do qual não temos ideia do que é feito. Isso pode acontecer em várias sessões, sim, todavia não é uma regra: às vezes uma análise se trata de olhar para uma notinha de rodapé.
Uma nota de rodapé é uma sutileza na construção de um texto. É um detalhe incontornável, quase uma avenida que somos obrigados a ler para que a estrutura textual faça sentido. Naquela frase tão pequena, há um detalhe que o autor quis ressaltar, mas que muitas vezes pode passar despercebido.
Às vezes uma experiência de análise é sobre isso, sobre um detalhe que se passa despercebidamente percebido – algo como que “eu sei que há algo ali, mas prefiro continuar sem me atentar”. Não queremos interromper a leitura para ler a nota de rodapé, e seguimos o texto compreendendo parcialmente o que o autor quis dizer, ou pior, entendendo errado e fantasiando o sentido.
Uma frase que titubeamos para concluir, um nome trocado, uma confusão discursiva, um “por um lado é isso... não lembro o outro lado”, uma palavra fora de contexto, um sorriso no canto do rosto quando o sujeito está falando sobre algo triste. É ali que o inconsciente mostra sua força. Uma análise bem sucedida se trata de uma delicadeza, de implicar o sujeito em uma “besteirinha” que passaria batida no cotidiano, como uma nota de rodapé que é tão simples e importante de ser lida, mas que passamos o livro todo ignorando.