26/11/2025
[LEIA A LEGENDA]
Aprendi desde cedo a parecer ser forte, digo -parecer- porque hoje eu entendo que essa era a verdadeira função: mostrar. Acessar a minha fragilidade era quase um tarefa impossível, falar dela ainda hoje é quase um insulto pessoal, me constrange, seca a garganta, quase não sai em palavras.
A necessidade de demonstrar fortaleza, escondia os sentimentos mais paralisantes que nós podemos sentir: uma porção de medo, vergonha e culpa, com uma dose de cobertura de orgulho e vaidade. Na busca de autoproteção, autopreservação e de admiração, durante muito tempo, conquistei solidão emocional. Afinal, “as pessoas já tem os seus problemas”, “problema a gente resolve é sozinho mesmo”.
Ledo engano, precisei que a vida me mostrasse que ninguém cuida de pedra, pedra ou a gente ignora, salta e passa por ela ou a gente chuta. É a fragilidade da flor que faz a gente admirar, cuidar, regar e nos conectar.
Talvez, só com a maternidade senti realmente na pele o preço e a dor de ser pedra. Estou aprendendo a ser mais flor, mas para isso, precisei me desmontar por inteira. O cuidado ainda chega com um ar de espinhos, incômodo, traz desconforto.
Muitas vezes a nossa história nos faz nos tornarmos pedras, mas é entrar em contato com ela que nos ajuda a voltarmos a sermos flores, porque é só a nossa humanidade e vulnerabilidade que nos conecta com quem realmente somos e consequentemente, com o outro.
Aceitar a nossa vulnerabilidade faz com que sejamos menos endurecidos, menos pedras.
Quando você se conhece, você consegue resgatar as pétalas que deixa pelo caminho, porque assim como a vulnerabilidade é inerente à condição humana, não dá para negar que nascemos flores.
Às vezes flores com muitas pétalas, às vezes flores com espinhos, flores sem ou quase sem pétalas, flores cheias de cor ou desbotadas, às vezes flores que vão precisar serem regadas, trocadas de lugar, flores que precisa de ciclos, que vão morrer no inverno e florecer na primavera, flor que precisa da luz do sol assim como precisa da sombra. Que não vai estar sempre bonita, mas antes ser flor, do que pedra.