12/12/2020
Amigos da Villa Vecchia,
Nestes últimos dias, vivenciamos tempos difíceis em nossa casa. Apesar de muitos esforços para tentar blindar ao máximo a entrada desse vírus cruel na instituição, ele chegou trazendo os estragos que compõem a história natural dessa doença.
Somos uma ILPI (Instituição de Longa Permanência para Idosos) peculiar, pois temos idosos muito idosos, além de ser uma população de alta complexidade geriátrico-gerontológica. Por isso, acreditamos ser uma instituição de cuidados prolongados e pautamos nossas ações em pressupostos de potencialização das reservas funcionais, com otimizações de estratégias clínicas e habilitadoras. Sabemos que esse tipo de equipamento sócio- sanitário, com foco em bem-estar e qualidade de vida, não é acessível a muitos em nosso país. Porém, esperamos que esse modelo possa ser o embrião de políticas sócio- sanitárias direcionadas ao envelhecimento dos mais vulneráveis. No nosso caso, essa população tem, em sua maioria, acesso à medicina privada de excelência. Contudo, em tempos de pandemia esse recurso também se tornou limitado, e ainda que com todos os cuidados acionados, alguns idosos desenvolveram a forma grave da doença, necessitando de suporte hospitalar para sua estabilização clínica.
Recentemente, aqui na Villa, uma idosa mais jovem desenvolveu uma reação inflamatória e isso deflagrou uma verdadeira via-crúcis para conseguir sua internação em CTI. Passaram-se três longos dias de tentativas sem sucesso em várias unidades hospitalares de Niterói e Rio de Janeiro, devido à superlotação e às longas filas de espera. Como essa paciente tem dois bons planos de saúde privados, empenhamos todos os esforços para transferi-la por meio de ambulância privada. A equipe enviada, apesar de alertada da gravidade clínica da paciente portadora de covid-19, veio despreparada: sem EPI condizente, sem medicamentos e equipamentos adequados para dar conta de uma possível transferência. Uma equipe despreparada e sem recursos necessários foi embora sem conseguir efetuar seu objetivo.
Em total desespero, esgotados todos contatos da família, e mesmo sabendo que a paciente tinha direito a hospitais da rede privada, decidimos chamar o SAMU. Contatamos o serviço e, dali por diante, nossos corações se aquietaram com o acolhimento da central de regulação. A médica que nos atendeu, que pedimos desculpa por não lembrarmos do nome, após a descrição do caso, falou a seguinte frase: “amiga, já estou enviando a ambulância”. Trinta minutos depois, a unidade chegava em nossa casa. Que diferença! Saíram do veículo três anjos paramentados. Era a ocorrência número 100 do SAMU de Niterói. A equipe chegou chefiada pelo doutor Eric com a profissional de enfermagem Paula e o profissional de apoio Ramón. Com a tranquilidade de quem sabe o que está fazendo, ouvindo a opinião de quem conduzia o caso, avaliando clinicamente a gravidade da situação e abordando com carinho uma paciente em agitação psicomotora e dessaturada, eles gerenciaram toda a situação com competência e objetividade, e conseguiram a transferência em poucos minutos.
Queridos anjos, nossos agradecimentos!
Compartilhamos essa situação para reafirmar o valor do nosso SUS. Não obstante a classe e os acessos a sistemas privados, na hora da lida com uma situação difícil como essa, precisamos de serviços com experiência, expertise e competência. Precisamos de uma rede que dê o suporte necessário na hora necessária, independentemente de idade, classe social e de outras especificidades dos membros de nossa comunidade. E, em nossa experiência, não foi a rede privada que nos deu essas respostas. Embora sucateado, desprezado e criticado, foi o nosso SUS que resolveu. Foi o trabalho de uma equipe treinada, organizada e comprometida, que deu a chance a essa paciente. Por isso, é que todos nós queremos saudar esse SERVIÇO que é uma joia a ser preservada em nosso país.
Mais uma vez, obrigada equipe SAMU Niterói Dr. Eric, Paula, Ramón e Amiga Reguladora. Um grande e fraterno abraço.
E viva o !
Villa Vecchia