24/01/2017
Na legenda original do Saúde irônica: “Saporra será que é friboi?”.
Mas, falando sério, quem nunca ouviu falar em modelar os músculos, como se fossem aquelas massinhas coloridas? É exercício para fazer a voltinha do quadríceps, arredondar bu**um, deixar o bíceps bicudo por aí vai... Um exemplo clássico são os músculos do peitoral. Comecemos dessa história que movimentos inclinados são para parte clavicular (superior) e retos para parte do meio do peitoral. Sobre ativação, há estudos que não reportaram diferença da parte superior do peitoral entre supino reto e inclinado (Barnett et al., 1995) e, pior ainda, há os que não encontram diferença nem entre o supino inclinado e declinado (Glass & Armstrong, 1997)! Há também quem encontre diferença, mas apenas quando a inclinação passa dos 40 graus (Trebs et al., 2010; Luczak et al., 2013). Porém, mesmo que houvesse consenso com relação à ativação, devemos lembrar que modificações no sinal eletromiográfico não necessariamente se refletem em ganhos de massa muscular. Ou seja, precisamos achar estudos que mediram o crescimento das diferentes partes do peitoral. Nesse sentido, só conheço o trabalho de mestrado de Cristiano Ughini, orientado pelo grande Ronei Pinto, que analisou a hipertrofia das partes esternocostal e clavicular do peitoral em resposta ao crucifixo na máquina e encontrou aumentos da ordem de 20 e 17%, respectivamente, medidos por ultrassom. Ué, mas então o movimento reto também hipertrofia a parte superior? Sim!! Essa história de dividir peitoral igual açougueiro é meio sem lógica, pois todas as partes do músculo serão estimuladas nesses exercícios, e mesmo que houvesse alguma diferença na hipertrofia em resposta às inclinações elas dificilmente seriam perceptíveis ao ponto de você precisar fazer um k**a sutra no banco de supino.
Variações de exercício tem muito mais a ver com questões práticas, por exemplo, o inclinado pode aliviar um pouco a pressão na cabeça, os halteres podem ser úteis para quem treina sozinho, máquinas ajudam no drop-set, paralelas quebram o galho quando não tem academia por perto, etc. Acho legal variar, mas que se faça pelos motivos certos e não para brincar de Michellangelo Maromba!
(Paulo Gentil)
Barnett C, Kippers V & Turner P. (1995). Effects of variation of the bench press exercise on the EMG activity of five shoulder muscles. J Strength and Cond Res 9, 222-227.
Glass SC & Armstrong T. (1997). Electromyographical acitivity of the pectoralis muscle during incline and decline bench press. J Strength and Cond Res 11, 163-167.
Luczak J, Bosak A & Riemann BL. (2013). Shoulder Muscle Activation of Novice and Resistance Trained Women during Variations of Dumbbell Press Exercises. J Sports Med (Hindawi Publ Corp) 2013, 612650.
Trebs AA, Brandenburg JP & Pitney WA. (2010). An electromyography analysis of 3 muscles surrounding the shoulder joint during the performance of a chest press exercise at several angles. J Strength Cond Res 24, 1925-1930.