30/07/2020
Por que NÃO fazemos “dessensibilização” na Terapia de Integração Sensorial de Ayres?
A hiperreatividade tátil (um dos tipos de disfunção de Integração Sensorial) ocorre quando a criança apresenta uma sensibilidade aumentada diante do contato com estímulos táteis, podendo apresentar respostas desproporcionais, como choro, fuga, agitação, aumento do nível de alerta.
Alguns pais e profissionais, na intenção de ajudar, tentam aumentar o contato da criança com os estímulos táteis para “dessensibilizar”.
Porém, isso está equivocado! O tratamento feito pelo Terapeuta Ocupacional não será através de dessensibilização, mas sim de outros estímulos modulatórios, capazes de diminuir a resposta exacerbada.
A explicação para isso está cientificamente embasada nos estudos da Neurociência. Nas crianças que NÃO possuem problemas de Integração Sensorial, ocorre o processo de HABITUAÇÃO. As bases neurofisiológicas da habituação são relacionadas à redução na efetividade sináptica das vias estimuladas. Por exemplo, quando colocamos uma roupa, percebemos o tecido, mas em poucos segundos conseguimos ignorar a sensação e focar a atenção em outras questões mais relevantes.
Já nas crianças que possuem o quadro de hiperreatividade tátil, ocorre o processo de SENSIBILIZAÇÃO. Diante de um estímulo tátil, mesmo que não tenha potencial nocivo, a criança o percebe como tal, e passa a responder com reflexos defensivos, como o de retirada e fuga. A fisiologia da sensibilização é o aumento da transmissão sináptica e a apresentação repetida do estímulo pode fortalecer a atividade sináptica por dias.
Ao invés de ignorar o estímulo, a criança passa a percebê-lo mais e a ter reações não condizentes com o risco real. Como o exemplo da roupa, nesse caso a criança pode sentir-se incomodada cada vez mais e apresentar reações de irritabilidade e agitação, o que dificulta a atenção para estímulos relevantes.
Assim, expor a criança que apresenta disfunção de integração sensorial aos estímulos para que se “acostume” só ativaria ainda mais conexões sinápticas e aumentaria a hiper sensibilidade tátil da criança.
Indicamos a leitura do livro "Princípios de Neurociências" (Kandel et al, 2014).