21/04/2017
O texto é longo mas acredito que vale a pena ler todo.
Texto do Dr. Daniel Barros, pisiquiatra (da Ibab) A reportagem saiu no Estadão.
O suicídio é um grave problema no mundo todo - a cada 40 segundos alguém se mata no planeta. Entre os jovens, é a segunda causa de morte. E é nessa faixa etária que o comportamen to mais cresce. Só que tudo isso já vem acontecendo antes de Baleia Azul, internet, Netflix, Hannah Baker ou youtubers. Na base de dados de mortalidade da Organização Mundial da Saúde é possível criar gráficos com vários tipos de informação. Eu pesquisei um pouco sobre prevalência de morte por suicídio entre pessoas de 15 a 24 anos nas últimas três décadas e montei o seguinte gráfico:Ou seja, pelos menos desde meados dos anos 80 a taxa de suicídio nessa população praticamente só faz crescer. E vamos continuar achando que o problema é um jogo? O jogo, o seriado, as notícias espetaculosas, tudo isso pode sim contribuir para a morte de jovens. Desde que eles estejam doentes - estima-se que em até 90% dos casos de suicídio um transtorno mental esteja presente - e não se tratem.
Para um adolescente se matar, portanto, não existem 13 razões porquê.
Existe praticamente só uma: nosso preconceito com os transtornos mentais. Sim, pois não basta ter depressão para cortar os pulsos - é preciso que essa dor seja negligenciada, estigmatizada. Isso aumenta a culpa de quem sofre, acrescentado mais camadas ao sofrimento. E de quebra ainda reduz a chance de procurar tratamento.
Até que a angústia se torna insuportável.
Aí sim, ver um seriado, receber um desafio, o que for, pode estimular a busca por uma saída trágica.
Matemos a baleia azul. Vetemos os seriados. Façamos o diabo.
Mas enquanto não compreendermos que os transtornos mentais são sérios, são comuns e não são motivo de vergonha, facilitando o acesso ao tratamento de todas as formas possíveis, sempre haverá uma nova moda para empurrar quem está à beira do precipício.