13/03/2020
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Jejum intermitente é sempre um tema controverso, que traz discussões calorosas nas mídias sociais. Há profissionais que o defendem com afinco, enquanto outros o criticam na mesma intensidade. Mas então, há evidência para jejum intermitente?
Esse não é um tema de pesquisa novo. É só pensar que o Ramadã – uma prática de jejum presente no islamismo – é milenar, e há muitos anos pesquisadores se debruçam sobre o efeito dele sobre a saúde. A diferença é que houve substancialmente mais ensaios clínicos nos anos recentes, que são os estudos com maior nível de evidência.
É por isso que quero discutir o artigo “Effects of Intermittent Fasting on Health, Aging, and Disease”, dos pesquisadores Rafael de Cabo e Mark Mattson, publicado na New England Journal of Medicine (uma das mais importantes do planeta).
De forma geral, os corpos cetônicos exercem muito mais funções do que apenas serem oxidados para obter ATP: eles são sinalizadores e moduladores de expressão gênica.
Em resumo: autofagia (mecanismo de renovação celular, que protege contra erros inatos e adquiridos) e biogênese mitocondrial são as vias metabólicas que explicam os efeitos clínicos observados, como melhora na resistência à insulina, na capacidade de resistência celular ao estresse, redução de fatores de risco cardiovascular e até mesmo efeitos preliminares que demonstraram melhora cognitiva e na memória.
Dessa forma, há sim evidência para o jejum intermitente. Há quem diga que os benefícios associados ao jejum são, na verdade, derivados da perda de peso em si e não desse estado metabólico. Os autores abordam esse assunto também e demonstram que há vários desses efeitos positivos mesmo sem perda de peso.
Devemos lembrar que não existem evidências de longo prazo ainda, e que também devemos ter critérios ao aplicar essa estratégia – nem todo paciente se adapta, e mesmo os que se adaptam, é preciso ver se o momento da terapêutica favorece a adesão! Adesão é, e sempre deve ser, o objetivo maior.