14/05/2025
Há silêncios que pesam mais do que o choro.
E há braços que embalam um boneco — mas o que querem, quem sabe, embalar a si mesmos...
O bebê reborn pode parecer um simples objeto, uma fantasia inofensiva,
mas para alguns, ele se torna um espelho do vazio,
uma tentativa de preencher uma ausência que ainda dói.
Diferente de um bebê de verdade, o reborn não chora, não adoece, não exige.
Ele não frustra, não acorda de madrugada, não tira o chão.
É o bebê ideal: moldado à imagem do desejo,
um bebê que nunca abandona, nunca rejeita, nunca contradiz.
E é justamente por isso que ele nos convida à reflexão.
Winnicott, com sua sensibilidade única, nos fala do objeto transicional, o primeiro “não-eu” que ajuda o bebê a sobreviver à ausência da mãe.
Um paninho, um ursinho, um cheirinho que acalma.
Mas para ele, esses objetos têm um papel: ajudar a criança a se separar, a existir por si.
Quando o objeto se fixa e ocupa o lugar do outro real,
ele pode sinalizar um colapso no amadurecimento emocional.
O bebê reborn, nesse sentido, não é ponte, é substituto.
Já Lacan nos lembra que o sujeito é constituído pela linguagem, pela falta, pelo desejo do Outro.
O reborn entra aí como um preenchimento imaginário para uma falta que não se simbolizou,
um amor que não foi vivido, um luto que não foi elaborado.
A mãe ideal que não existiu.
O filho que não veio.
O afeto que ficou suspenso no tempo.
Na fantasia, tudo está sob controle.
No real… tudo escapa.
A maternidade real exige presença, adaptação, enfrentamento.
É conflito, frustração, imprevisibilidade.
É o amor que se constrói na imperfeição.
O reborn, por sua vez, representa o impossível:
um amor perfeito, sem riscos, sem perda e sem vida.
Todo excesso de controle esconde uma dor.
E todo afeto que se cristaliza num boneco silencioso
pode estar tentando calar um grito antigo, de abandono, de perda, de solidão.
Por isso, o olhar da psicologia é necessário.
Não para julgar, mas para escutar.
Para compreender o que esse brincar está tentando organizar.
Porque há feridas que só se curam quando alguém escuta de verdade.
Na análise, o sujeito pode, dar voz ao que foi calado.
E atravessar esse vazio, não com bonecos, mas com palavras