21/03/2021
21 de Março
"[...] Fabiana produz uma cena reiterativa: preparar “papa” e mexer nas panelinhas com colherinhas. A partir deste ritual lúdico, inicia-se a intervenção, que busca produzir uma maior extensão simbólica na cena do brincar. Intervém-se buscando nomear as comidas de que Fabiana gosta e as de que não gosta, e armar uma cena na qual se cozinha para alguém, se convida esse alguém para jantar ou se alimenta “o nenê”, como passa a fazer. Nesse brincar que arma o contexto de seu interesse vão se colocando diferentes interpelações que propiciem conflitos cognitivos em sua produção (para quem falta prato, qual prato combina com qual xícara, por exemplo). Vão surgindo assim novas palavras: “su-o” (por suco),“u-a” (uva), “iu” (frio), “ão” (feijão) entre outras. Ela passa a estabelecer critérios de classif**a- ção, seriação, correspondência e contagem. A cena de brincar se estende até o fazer compras para depois poder cozinhar. É então que Fabiana f**a extremamente implicada e animada com a proposta de ir a um supermercado de verdade. Lá, me mostra os produtos e a atividade dos funcionários enquanto vamos falando do que está acontecendo. Em várias sessões, solicita ir ao mercado, mas isto não consiste mais em uma produção repetitiva. Sempre surge algo novo: em uma sessão, ela escolhe “comprar pão”, “cozinhar” pão com manteiga e convidar as pessoas da clínica, perguntando: “Qué pão?” Em outra, depois de comprar pão, diz a palavra “pato”, e vamos dar pão aos patos do lago no parque [...]"
Fabiana tem cinco anos, frequenta um jardim de infância e como toda criança adora brincar, ela tem Síndrome de Down e sua história é retratada por Julieta Jerusalinsky no artigo “O acompanhamento terapêutico e a construção de um protagosnismo”. Vale a pena ler e se apaixonar...pela Fabiana e pelo trabalho do AT! ;)
fonte:http://www.editoraescuta.com.br/pulsional/162_04.pdf