25/11/2021
NEM TUDO QUE BRILHA É OURO...
Considerações sobre o mito de que o rapé nativo do Acre é “perfeito”
Pessoal, estou no caminho das medicinas da floresta há mais de 20 anos e gostaria de partilhar algumas considerações sobre a medicina do Rapé e Estado do Acre, que tenho certeza que vai esclarecer muitas coisas que permeiam o imaginário comum nas grandes metrópoles do país, onde é comum vermos o mito de que rapé nativo é sempre perfeito, seguro e inquestionável, criando uma certa rivalidade com os feitores urbanos e uma atmosfera mística em torno tanto a medicina como do Estado do Acre.
Fui iniciada na medicina do rapé por um Pajé na cidade de São Paulo, como muitos que conheço. Só depois fui conhecer como as etnias confeccionam e entendem essa medicina, já visitei mais de 20 etnias e, pelos meus estudos, ainda faltam mais umas 25 que tem o Rapé como ferramenta medicinal.
Porém, logo percebi que há um frenesi pelo estado do Acre, extremamente justificável, devido a maior parte das etnias que fazem trabalhos espirituais nos centros xamânicos e casas de rezos serem nativas desse estado, como os Huni Kui (Kaxinawa) Noke Kui (Katuquinas), Shawãdawa, Yawanawa, Puyanawa, Nukini, entre outros.
Por conta do turismo xamânico que a cidade de Cruzeiro do Sul recebe, algumas pessoas já perceberam que esse é um mercado com grande potencial lucrativo, pessoas de muitas cidades, principalmente do Sudeste, estão comprando grandes extensões de terras nessa cidade para fazer seu centro xamânico e morder uma fatia desse mercado extremamente lucrativo, outros, alugam casas aqui (extremamente barato) para fazerem sua casa de feitio, contratando mão de obra de nativos por valores muito baixos - beirando a exploração pura e simples, e postarem nas redes sociais assim: MEDICINAS DIRETO DO ACRE!!!
A precariedade da situação dos moradores dessa cidade também justifica parte dessa verdadeira “corrida à meca das medicinas da floresta”, já que é muita gente vivendo miseravelmente, sendo quase uma regra o pagamento de 50,00 por dias de trabalho, muitas pessoas se expondo a trabalhos exaustivos e perigosos para confeccionar ayahuasca e rapé, pra abastecer o mercado das regiões ricas do país, onde os consumidores sequer irão perguntar como e por quem essas medicinas foram feitas.
Quem tá começando nas medicinas não consegue perceber alguns detalhes importantes que merecem muita atenção:
1 O Acre não é um estado sagrado, é uma região como outra!
2 Não é todo feitor daqui que é nativo, grande parte não é!
3 Não é todo rapé daqui que é bom, pois grande parte dos feitores aqui compram tabaco ARAPIRACA no mercadão municipal e fala que é orgânico (por está no acre, os que compram, acham que é mais “SAGRADO”.
4 Aqui o rapé é comercializado como uma mercadoria como outras... 3 tubetes 10 reais (vide foto)
5 Há casas e bares que vendem rapé no saquinho, como um papelote, por 2 reais.
6 Alguns feitores sérios falaram que as cinzas desse rapés são cinzas de fornalha de padaria.
Uma das questões que me chamam a atenção é: qual a qualidade da cinza e do tabaco que há nesse r**e de 2 conto? Não sabem dizer... E me disseram, isso não importa!...O povo de São Paulo compra, só falar que é daqui!
Portanto, colegas, prestem atenção quando falarem que, o Rapé do Acre é o melhor, é mais sagrado, proporciona mais cura, etc, etc, etc.. ISSO NÃO CONDIZ COM A VERDADE!
Que a cidade é um ponto turístico sem igual, que vale muito a pena conhecer, não posso deixar de considerar, porém o destaque do post é sobre o misticismo em torno do “RAPÉ DU ACRE”
Há rapés bons e ruins, isso em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e também no ACRE
(Fonte: Rapé Brasil)