04/12/2025
O que f**a, eventualmente, encoberto no dito “tempo é dinheiro” (“time is money”)?
O dinheiro tem uma relação engraçada com o tempo, pois não é claro que ele possa exatamente comprá-lo.
Em algum sentido, sim. No sentido do manejo cotidiano da vida, e no sentido do privilégio de classe: não precisar se submeter tanto aos caprichos (e abusos) do mercado.
Mas, para além disso, há limites. É que, ao que parece, compra-se a possibilidade de certo “uso do tempo”, e não o tempo em si. Não se compra, propriamente falando, “mais tempo”. E o tempo que alguém “compra”, ele se esvai igual, na hora, poderíamos dizer, no ato mesmo da compra.
Ao puxar esta cortina que é a palavra “money”, talvez eu me depare com este buraco em “time is ...” – buraco de aberta definição (ou indefinição). Nem mesmo o relógio poderia preenchê-lo.
Pois como conceber aquilo que é o tempo de uma relação, o tempo de um projeto, de uma questão, de um enrosco, o tempo de brincar, de estar com os amigos, o tempo de uma chegada, ou o tempo de uma despedida?
E o quanto um acontecimento particular, ou na sociedade em geral (como a pandemia), pode ser capaz de, ao subverter os encobrimentos cotidianos da finitude do tempo, colocar alguém a pensar no que quer deste tempo que resta, ou, se esta pessoa buscar uma análise, a ousar deixar falar em si algo que se expresse como um desejo?