11/04/2025
Pouco se fala sobre a sala de espera.
Espaço menos importante que a sala “em si” do consultório do analista? (Existe mesmo uma hierarquia?)
Será que alguém já escreveu sobre esta (normalmente) diminuta sala, onde, se bem que não há divã, há, pelo menos, uma cadeira, uma poltrona… quer dizer, onde quando alguém se senta ali podem se passar coisas?
Como recriar nos atendimentos online esta sala de espera? Pois, muitas vezes, faz falta…
Aliás, que falta de criatividade nomeá-la “de espera”, quando é também sala de tantas outras coisas…
Um paciente me lembra que uma criança, quando viaja, não tem muita noção da distância percorrida. Não entende que viajou para outro país, é como se saltasse de um lugar para outro: foi teletransportada.
Um adulto bem ajuizado sabe que o elevador vai levá-lo a outro andar, do mesmo prédio - e não a outro “mundo”, como poderia acontecer nos desenhos animados (fidedignos do ponto de vista da criança) em que alguém cava, cava, cava… e acaba, por exemplo, no Japão.
Então, se esse elevador, ao se abrir, deixasse esse adulto no Japão - e se esse sujeito desse logo com uma tradicional Cerimônia do Chá, jóia ancestral da cultura japonesa, então o único jeito que ele teria para chegar até o aposento onde lhe aguarda sua xícara de chá seria passando, antes, por um caminhozinho, um ‘roji’.
Como nos conta o clássico Livro do Chá, de 1905, o ‘roji’ “foi planejado para quebrar a conexão com o mundo externo e para produzir uma sensação de frescor apropriada à indução do gozo estético pleno no interior do aposento de chá. Aquele que palmilhar essa passagem do jardim jamais se esquecerá da maneira como seu espírito se elevou sobre pensamentos corriqueiros no momento em que, em meio à penumbra das sempre-vivas, pisou lajotas de harmoniosa irregularidade rodeadas de agulhas secas de pinheiro e, em seguida, passou por lanternas de granito cobertas de musgo. Você pode estar no meio de uma cidade e ainda assim se sentir numa floresta, distante da poeira e do bulício da civilização. Grande foi a engenhosidade dos mestres do chá”. (continua nos comentários)