01/10/2025
Sozinho aqui em Dubai sem a família, sem minhas cachorras, passei a refletir muito sobre o que é felicidade. Cheguei à conclusão de que não é estar numa cidade como Dubai, onde tudo brilha, tudo reluz, mas dentro de mim o vazio. Passei a pensar mais no passado e me peguei descobrindo várias felicidades muito distantes, no tempo e no espaço, de onde estou agora. Sem querer traçar uma ordem puramente cronológica, vou tentar expor o que é felicidade.
Felicidade é comer banana amassada com leite e açúcar numa casa da roça sem luz e sem água encanada. É estar na estrada com a família, voltando das férias da escola, pensando nos brinquedos que vai reencontrar quando chegar em casa. É o cheiro de material escolar novo e do plástico que forrava os livros. É chegar no fim do ano e os amigos assinarem a camisa da escola porque você passou direto. É chegar de manhã cedinho numa rodoviária do interior e tomar café preto num copo de vidro. É seu tio lhe acordar às quatro da manhã e vocês dois entrarem num jipe velho para ir ordenhar o gado. É subir a pé o morro atrás da casa da roça, sozinho, para ver a paisagem lá de cima. É, no domingo à tarde, ir ao posto telefônico da cidade para ligar para os seus pais que ficaram na capital. É o frio na barriga de ligar para a menina que viraria sua esposa, para convidá-la para o cinema. É ouvir seu nome no rádio quando você passou no vestibular. É receber um abraço inesperado da menina que você quer namorar e, logo depois, beijá-la. É ter a oportunidade de atender pessoas pobres sem cobrar pela consulta, fazendo isso com horário marcado numa clínica de periferia. É receber o resultado da ultrassonografia da sua esposa mostrando o bebê que vocês tanto planejaram. É ver seu filho nascer e dar o primeiro choro. É ter a liberdade de ir e voltar do trabalho de bicicleta, mesmo numa cidade cheia de ladeiras. É se fantasiar e brincar de super-herói com seu filho. É deitar numa cama com seus bichos de estimação e sentir a respiração deles no seu rosto. É levar seu filho até o campus da universidade onde ele vai morar, estudar e virar um adulto. É, depois de 36 anos juntos, poder dizer e ouvir: "Eu te amo."