08/09/2025
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As evidências de que a melhora da aptidão cardiovascular pode reduzir o risco de neoplasia colorretal continuam crescendo.
Uma análise abrangente envolvendo 643.583 indivíduos, com mais de 8 mil casos e 10 anos de acompanhamento, identificou associação consistente, inversa e gradual entre o condicionamento cardiorrespiratório e a probabilidade de desenvolver a doença, com benefício semelhante para homens e mulheres de todas as raças.
O risco foi 9% menor para cada aumento de um equivalente metabólico, medido objetivamente por teste de esforço em esteira.
Quando avaliado em todas as categorias de capacidade cardiovascular, observou-se declínio progressivo no risco conforme aumentava o nível de condicionamento, constataram o Dr. Aamir Ali, médico, e colaboradores do Veterans Affairs Medical Center nos Estados Unidos.
Em comparação aos indivíduos menos aptos (equivalente metabólico = 4,8), o risco foi 14% menor para baixo condicionamento físico (7,3), 27% para aptidão moderada (8,6), 41% para indivíduos aptos (10,5) e 57% para altamente aptos (13,6).
A aptidão cardiorrespiratória moderada é alcançável para a maioria dos adultos de meia-idade e idosos por meio da prática de atividades físicas de intensidade moderada, como caminhada rápida, o que está alinhado às diretrizes nacionais dos EUA, afirmaram os autores.
O estudo foi publicado on-line em 28 de julho no periódico Mayo Clinic Proceedings.
Os resultados corroboram trabalhos anteriores. Por exemplo, no estudo Cooper Center Longitudinal, homens de meia-idade com aptidão cardiorrespiratória alta apresentaram risco 44% menor de neoplasia colorretal e 32% menor de morrer de câncer em comparação a homens com aptidão baixa.
Uma metanálise recente do World Cancer Research Fund estimou risco 16% menor de câncer de cólon em pessoas com níveis mais altos de atividade física recreativa, e análise recente do UK Biobank utilizando acelerômetros relacionou o aumento da movimentação diária à redução de 26% no risco de diversos tipos de câncer, incluindo o de intestino.
Em conjunto, os dados sugerem que "quanto mais você se exercita, melhor será sua saúde global; não apenas a aptidão cardíaca, mas também o risco de câncer", declarou ao Medscape o Dr. Joel Saltzman, oncologista do Cleveland Clinic Taussig Cancer Center, nos EUA.
Como evitar o risco de neoplasia colorretal?
Nos EUA, a neoplasia colorretal é a segunda principal causa de mortalidade por câncer, responsável por 51.896 mortes em 2019. O ônus econômico também é expressivo, ultrapassando 24 bilhões de dólares anualmente.
Nas últimas três décadas, a incidência de câncer de cólon diminuiu em indivíduos de idades mais avançadas, mas quase dobrou em adultos mais jovens no mesmo período, "ressaltando as limitações dos programas de rastreamento e a necessidade fundamental de modif**ar fatores de risco", registraram o Dr. Aamir e colaboradores.
"Há boas evidências de que exercícios e estilo de vida/dieta saudáveis trazem benefícios importantes de forma geral e podem reduzir o risco de câncer de cólon", afirmou ao Medscape o Dr. David Johnson, médico, professor de medicina e chefe de gastroenterologia da Eastern Virginia Medical School, nos EUA.
Segundo ele, os efeitos protetores da atividade física sobre mecanismos relacionados ao câncer colorretal envolvem, entre outros, a regulação da inflamação e das vias aberrantes de crescimento celular/câncer.
O gastroenterologista enfatizou, no entanto, que exercícios e estilo de vida não substituem o rastreamento.
“O rastreamento adequado, em particular por colonoscopia, feito por médicos qualif**ados conforme padrões de alta qualidade, para detectar e remover pólipos pré-neoplásicos, é a melhor estratégia preventiva”, pontuou.
“Neste momento, embora a prática de exercícios seja potencialmente útil e uma recomendação geral valiosa, meu conselho como especialista é que ela não elimina o risco de câncer colorretal”, acrescentou.
Há como evitar a recorrência da neoplasia colorretal?
Prevenção à parte, os dados mais favoráveis até o momento indicam benefícios da prática de atividades físicas na redução do risco de recorrência em pacientes já tratados, afirmou o Dr. David.
Talvez o estudo mais convincente tenha sido o CHALLENGE, publicado recentemente no periódico The New England Journal of Medicine.
O trabalho analisou pacientes com neoplasia de cólon ressecada em estágio II ou III após quimioterapia adjuvante. Foram excluídos aqueles com recorrência no primeiro ano após o diagnóstico, por apresentarem maior probabilidade de doença altamente agressiva e biologicamente ativa.
Os participantes foram randomizados para receber apenas materiais educativos sobre saúde ou em conjunto com um programa estruturado de exercícios, acompanhados por três anos.
O foco da intervenção foi aumentar a atividade aeróbica recreativa em relação ao valor inicial do estudo em pelo menos 10 equivalentes metabólicos, o que corresponde a adicionar à rotina cerca de 45 a 60 minutos de caminhada rápida ou 25 a 30 minutos de corrida leve, três a quatro vezes na semana.
Com mediana de acompanhamento de quase oito anos, o exercício reduziu o risco relativo de recorrência, novo câncer primário ou morte em 28% (p = 0,02).
“Esse benefício persistiu, e até se fortaleceu, ao longo do tempo, com sobrevida livre de doença 6,4 e 7,1 pontos percentuais maior em cinco e oito anos, respectivamente”, observou o Dr. David.
Os resultados do CHALLENGE são “muito convincentes”, observou o Dr. Bishal Gyawali, médico, Ph.D. e professor associado de oncologia na Queen's University, no Canadá. “Se fosse um medicamento, você ia querer usá-lo hoje”.
O Dr. Joel relatou que pacientes frequentemente perguntam o que podem fazer para prevenir a recorrência. “Eu dizia algo como: ‘mantenha uma dieta saudável e pratique exercícios’, mas havia poucas evidências sólidas”.
Diante desses dados robustos, acrescentou: “Eu deveria ter o direito de prescrever um programa de exercícios, e o plano de saúde deveria ser obrigado a cobrir”.
Os Drs. Aamir Ali e Joel Saltzman informaram não ter conflitos de interesse relevantes. Os Drs. David Johnson e Bishal Gyawali são colaboradores regulares do Medscape. 😷😷😷