14/03/2020
Criança também pode sofrer de incontinência urinária.
Entenda o problema.
14 de março, Dia Mundial de Conscientização sobre a Incontinência Urinária
14 de março: Dia Mundial de Conscientização sobre a Incontinência Urinária.
Criança também pode sofrer do problema, afetando sua autoestima, desenvolvimento e integração social.
Leia o interessante artigo do Dr Patric Tavares, do Comitê de Urologia Pediátrica da SBURS.
Incontinência Urinária na Criança
Por: Dr Patric Tavares
“Começo esse artigo com uma pergunta: uma criança de 3 anos que apresenta incontinência urinária durante o dia é considerado anormal?
Pois então, a partir disso, necessitamos entender o processo normal de treinamento esfincteriano na qual todos nós passamos.
O treinamento esfincteriano (TE) é um marco importante do desenvolvimento físico e psicológico em crianças, além de constituir um desafio para as famílias, pois ocorre em fase na qual a criança necessita de autoafirmação e há expectativa das famílias de que a continência ocorra o mais breve possível.5
Quando a criança se conscientiza sobre sua própria necessidade de eliminar urina e fezes ela já pode ser considerada “treinada” para o controle e, então, pode iniciar o ato sem um lembrete ou um preparo por parte dos pais. O controle da evacuação, em geral, precede o controle da micção.
Não se recomeda que a criança seja forcada a iniciar o processo de TE até que apresentem os sinais de prontidão e que os pais estejam orientados para reconhecer esses sinais.
Estudos recentes mostram que a idade média do inicio do TE tem aumentado de 24 para 36 meses. O uso de fraldas descartáveis e pais que trabalham fora com menos tempo para orientar o TE dos seus filhos são possíveis explicações para esse fenômeno.1,2,3
No Brasil, a média de idade de início do processo do TE é em torno dos 22 meses e a média de conclusão aos 27,4 meses, ocorrendo mais precocemente nas meninas4. O prazo de duração do processo fisiológico de TE pode variar entre 6 e 12 meses.1
Portanto, somente a idade não é um critério para começar o TE. Recomenda-se que seja iniciado quando os sinais de prontidão aparecerem, são eles: 6,7,8.
1. Imitar o comportamento dos pais ou de cuidadores.
2. Desejar agradar.
3. Desejar ser autônomo: insistir em concluir tarefas sem ajuda e orgulhar-se de novas habilidades.
4. Andar e estar apta a sentar de modo estável e sem ajuda.
5. Pegar pequenos objetos.
6. Capaz de dizer NÃO como sinal de independência.
7. Entender e responder a instruções e seguir comandos simples.
8. Saber puxar as roupas para cima e para baixo.
9. Possuir um vocabulário simples referente ao treinamento esfincteriano.
10. Usar palavras, expressões faciais ou movi- mentos que indicam a necessidade de urinar ou evacuar.
11. Mostrar interesse em outras pessoas que es- tejam usando o banheiro
12. Ficar seco por duas horas ou mais durante o dia.
13. Dizer que está “fazendo xixi” no momento da micção, em geral nos banhos.
14. Dizer aos pais que acabou de urinar ou evacuar em pequena quantidade na fralda e se incomodar com a fralda molhada. Tentar retirar fralda molhada ou pedir para ser troca- do (consciência física).
15. Não querer usar fraldas ou mostrar interesse em cuecas ou calcinha.
16. Conseguir ficar parada no penico ou vaso sanitário por 3 a 5 minutos.
17. Permanecer brincando com a mesma atividade por mais de 5 minutos.
18. Ser capaz de apontar o que deseja.
19. Ter iniciado a comunicação por palavras ou frases simples
20. Não apresentar atrasos nos marcos do desenvolvimento neuropsicomotor.
21. Compreender e seguir os comandos simples.
Quando devemos suspeitar que uma criança com incontinência há um distúrbio a ser tratado?
A incontinência urinaria em crianças é complexa em sua natureza. Há uma considerável morbidade com outras condições, por exemplo, enurese noturna, incontinência f***l, infecções do trato urinário e condições psiquiátricas.
No entanto, devemos sempre suspeitar de disfunção miccional em toda criança que tem incontinência urinaria após 5 anos, aquelas já tiveram o treinamento esfincteriano terminado e iniciam com incontinência, aquelas que tem associação com infecção do trato urinário , refluxo vesico ureteral e/ou constipação intestinal. 9
REFERÊNCIAS
1. Schum TR, Kolb TM, McAuliffe TL, Simms MD, Underhill RL, Lewis M. Sequential acquisition of toilet-training skills: a descriptive study of gender and age differences in normal children. Pediatrics. 2002;109(3):e48.
2. Tarhan H, Cakmak O, Akarken I, Ekin RG, Un S, Uzelli D, et al. Toilet training age influencing factors: a multicenter study. TurkJ Pediatr. 2015;57 (2):172-6.
3. Van Nunen K, Kaerts N, Wyndaele JJ, Vermandel A, Hal GV. Parent’s views on toilet training (TT): a quantitative study to identify the beliefs and attitudes of parents concerning TT. Child Health Care. 2015; 19(2): 265-274.
4. Mota DM, Barros AJ, Matijasevich A, Santos IS. Longitudinal study of sphincter control in a cohort of Brazilian children. J Pediatr (Rio J). 2010; 86 (5): 429-34.
5. Brazelton TB, Christophersen ER, Frauman AC, Gorski PA, Poole JM, Stadtler AC, et al. Instruction, timeliness, and medical influences affecting toilet training. Pediatrics. 1999;103 (3):1353-1358.
6. Kaerts N, Vermandel A, Lieman F, Van Gestel A, Wyndaele JJ. Observing signs of toilet readiness: results of two prospective studies. Scand J Urol Nephrol. 2012; 46(6):424-430
7. Kaerts N, Van Hal G, Vermandel A, Wyndaele JJ. Readiness signs used to define the proper moment to start toilet training: a review of the literature. Neurourol Urodyn. 2012: 31(4): 437-440.
8. Community Paediatrics Committee, Canadian Paediatric Society.Toilet learning: antecipatory guidance with a child- oriented approach. Paediatr Chid Health. 2000; 5(6):333-335.
9. Austin PJ, Bauer SB, Bower W, Chase J, Franco I, Hoebeke P, et al. The Standardization of Terminology of Lower Urinary Tract Function in Children and Adolescents: Update Report from the Standardization Committee of the International Children’s Continence Society. Neurouro Urodyn. 2016; 35 (4) :471–81.