30/11/2025
O livro Psicanálise Afora me tocou profundamente porque fala de algo que eu também vivo, mesmo que de outro jeito: essa sensação de ser estrangeira dentro e fora de mim. Enquanto lia, fui percebendo que a migração de que o livro trata não é apenas geográfica. É também uma migração interna, afetiva, simbólica. São mudanças que acontecem sem que a gente saia do lugar, mas que mexem profundamente com o nosso mundo interno.
Os relatos dos psicanalistas me atravessaram porque mostram que a clínica também migra. Ela se transforma quando atravessa línguas, culturas, histórias. Isso vale para quem atende fora do país, mas também para quem trabalha com pacientes que vivem em outros lugares. Quando o atendimento acontece em uma língua que não é a materna, ou dentro de uma outra cultura, algo na forma de falar, de escutar e de simbolizar se modifica. O idioma carrega afetos, memórias, modos de pensar. A cultura também.
Existe sempre um “entre-lugares”, uma espécie de campo compartilhado de estrangeiridade, onde tudo precisa ser costurado com cuidado e com uma escuta fina.
O livro me fez olhar para a psicanálise com mais delicadeza. Me lembrou que escutar alguém é sempre entrar num território que não é meu. Que o trabalho analítico pede humildade, presença e uma escuta viva que não tenta encaixar ninguém em formas prontas, que o encontro analítico acontece justamente nesse “entre”: entre línguas, entre culturas, entre versões nossas que ainda estão em construção. É nesse espaço tão frágil e tão fecundo que algo verdadeiro pode nascer.
Com carinho psicologa