28/03/2021
O inconsciente: a pulsão
O ser humano é um animal simbólico, e, como tal, constitui uma forma metafórica, regida por significantes, representações e imagens, de perceber a realidade, construir um discurso, dar sentido à sua identidade, ao seu existir enquanto sujeito. O simbólico, pois, media a relação deste com a realidade, como também consigo mesmo, com sua própria singularidade. O ingresso neste universo de símbolos, imagens, cultura e linguagem é o que constitui uma gramática de existência humana, que não segue as regras da racionalidade, mas possui uma estruturação própria, elaborada a partir da captura da energia pulsional produzida pela rede de significantes atribuídos ao vivido.
Esta estruturação é derivada das vivências deste sujeito, desde seu nascimento, com outros seres humanos, e, consequentemente, com repercussões sensíveis para o mesmo, a nível pulsional, formando uma gramática do inconsciente. Esta encontra expressão através de atos e manifestações que, inicialmente, parecem não ter muito sentido com a realidade consciente do sujeito, mas porque suas representações, por motivos de conflitos com seus desejos inconscientes, são recalcadas, separadas de seus acontecimentos, como modo de defender o sujeito de algo insuportável de ser processado psiquicamente. “É uma recusa de um representante da pulsão pelo consciente, estabelecendo uma “fixação”, onde esse representante permanece inconsciente e ligado à pulsão” (FREUD, 1915, p. 171 apud GARCIA-ROZA, 2009, p. 189-190).
Em outras palavras, há uma estruturação e funcionamento lógicos nos bastidores do pensamento consciente, que se impõe a este, fazendo o sujeito se encarar como se fosse outra pessoa, ao produzir trocas e lapsos de palavras e expressões, chistes, esquecimentos, fantasias, sintomas, cujo sentido dos mesmos escapa a um saber consciente. O autor aponta que, segundo Lacan, essas formações do inconsciente são um outro tipo de linguagem que constitui os seres falantes.
É, portanto, esse discurso que, através da associação livre desenvolvida nas sessões, ou seja, através do falar não premeditado, não pensado, mas espontâneo, pulsional, torna-se acessível, apontando uma outra sintaxe, uma outra lógica estrutural do sujeito, que o constitui de fato enquanto ser desejante, dividido, marcado pela lógica do inconsciente.
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Alena de Oliveira Medeiros Brito
Psicóloga Clínica CRP (02/23958)