21/05/2020
Se em tempos pré-pandemia, o home office era o sonho de muitos trabalhadores pela possibilidade de abolir longos deslocamentos, com a quarentena, o trabalho remoto tem sido fonte de sofrimento para muitos.
Um dos efeitos mais recorrentes do confinamento para os trabalhadores que estão exercendo suas atividades nesse regime são queixas relacionadas ao excesso de trabalho. Um excesso resultante do apagamento dos marcadores de tempo (horários de expediente, intervalos, hora de largar).
Ouvimos sujeitos que se sentem extenuados, alguns até assediados, diante das demandas de trabalho sem limites e da dissolução da fronteira entre trabalho e lar. A internet, na medida em que permite que estejamos disponíveis 24 horas, consente que o trabalho avance implacavelmente sobre nós.
O excesso de trabalho também surge como uma defesa, uma forma de proteger-se da angústia gerada pelo momento que vivemos. Trabalha-se muito, mas com todas as certezas abaladas, a sensação é de não estar avançando, progredindo. Então, trabalha-se mais.
Por outro lado, há aqueles que não conseguem fazer nada e, capturados pela mesma sensação de não estar avançando, sentem-se culpados. Em todos os casos, vemos a ação imperiosa do supereu, a nossa instância julgadora, que nos impele a querer trabalhar e produzir excessivamente, nos levando à exaustão ou à culpa.
Imagem: Thomas Demand