28/09/2023
DIA MUNDIAL DA CONTRACEPÇÃO
No último dia 26 de setembro comemorou-se o Dia Mundial da Contracepção, data simbólica proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU) desde 2007. A ONU e suas parcerias no Brasi vêm trabalhando para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. São 17 objetivos ambiciosos e interconectados que abordam os principais desafios de desenvolvimento enfrentados por pessoas no Brasil e no mundo. Na lista destes objetivos, o terceiro objetivo trata sobre “Saúde e Bem-Estar”, onde consta:
Até 2030, assegurar o acesso universal aos serviços de saúde sexual e reprodutiva, incluindo o planejamento familiar, informação e educação, bem como a integração da saúde reprodutiva em estratégias e programas nacionais.1
Nesse sentido, onde encontra-se o Brasil para alcançar a referida meta?
Segundo dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos2, em 2020 nasceram 380 mil filhos de mães com idade entre 10 e 19 anos, o que representa 14% de todos os partos ocorridos no país, isto é, uma proporção de um filho de mãe adolescente para cada sete. É bem verdade que o cenário atual é melhor (ou menos trágico) do que o enfrentado em 2000, quando a proporção era de um para cada quatro. Não obstante, publicação recente da Femina, revista oficial da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, revelou que 19% das brasileiras em idade reprodutiva não fazem uso de método anticoncepcional e 62% das gestações não são planejadas.3
E o que pode ser feito?
A princípio, discutir sobre direitos se***is e reprodutivos dentro da própria sociedade sem tabu e/ou excesso de pudor já seria um bom começo. Ademais, algumas práticas podem ser adotadas e multiplicadas entre os profissionais de saúde como acolher sem precoceito e não julgar a adolescente pelo interesse ou início da prática sexual, utilizar linguajar simples e escuta atenciosa, prestar orientação sobre sexualidade, prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, imunização contra HPV e gravidez não planejada. Em relação às adolescentes, várias sociedades de especialistas, incluindo a SOGOPE, entendem que os métodos reversíveis de longa ação (p.ex: dispositivos intrauterinos e implante subdérmico de etonogestrel) devem ser oferecidos como primeira linha de escolha. Por falar em escolha, na discussão das necessidades contraceptivas, é essencial respeitar o desejo e a cultura da paciente, não perder a oportunidade de início do uso, optar por métodos que busquem aliar segurança (inocuidade), eficácia, facilidade de adesão e de acesso e agendar consulta de retorno para avaliar adequação e continuidade do uso. Tratando-se de acessibilidade, por fim, é fundamental que toda população e seus representantes cobrem políticas públicas de estado que assegurem o acesso irrestrito aos mais variados métodos contraceptivos.
Acredita-se que assim seja possível celebrar todo ano, cada vez mais, o maior conhecimento da população brasileira sobre o direito à contracepção, permitindo às pessoas que façam escolhas conscientes sobre a sua saúde sexual e reprodutiva.
Dr. Agostinho de Sousa Machado Júnior
Vice-presidente da SOGOPE - Associação dos Ginecologistas e Obstetras de Pernambuco
(Diretoria Triênio 2023-2026)
1- https://brasil.un.org/pt-br/sdgs/3; https://www.un.org/sustainabledevelopment/health/;
2- DATASUS. Ministério da Saúde, Brasil. 2020;
3- Wender COM, Machado RB et al. Influencia da utilização de métodos contraceptivos sobre as taxas de gestação não planejada em mulheres brasileiras. Femina. 2022;50(3):134-141