25/10/2025
Quando caminhamos pela floresta, não estamos apenas entre árvores.
Estamos entre espíritos antigos, guardiões do tempo, mensageiros do sopro divino.
Cada tronco, cada folha, cada galho seco guarda a memória da Terra —
e a sabedoria dos que vieram antes de nós.
No caminho do xamanismo, aprendemos que nada nos pertence.
Tudo o que tocamos é empréstimo da Mãe Natureza.
Por isso, quando precisamos acender o Fogo Sagrado,
não arrancamos o que ainda pulsa de vida —
nós pedimos permissão, escutamos, e colhemos apenas o que a própria Terra já entregou:
os galhos secos, as madeiras que o vento desprendeu,
os pedaços que a floresta nos oferece com generosidade.
Esse é o verdadeiro sentido da comunhão com o Fogo.
Ele não é destruição — é transmutação.
É o espírito que devolve movimento àquilo que estava parado,
transformando matéria em energia, vida em luz.
O fogo consome para purificar, aquece para reunir, ilumina para despertar.
E assim, o que foi árvore, volta a ser espírito,
servindo à roda da vida, completando o ciclo com honra e gratidão.
Quando acendemos o fogo, não estamos apenas queimando lenha —
estamos ativando o coração da Terra dentro de nós.
O fogo nos recorda que somos ponte entre os reinos:
a matéria que sente, o espírito que respira.
E cada chama acesa é uma prece viva,
um chamado para que a natureza e o humano caminhem, novamente, em reciprocidade.