15/06/2021
Quando conto que sou psiquiatra da infância e adolescência (ou psiquiatra infantil) para pessoas que não são da área de saúde mental, com frequência ouço 2 perguntas emendadas uma na outra: “Criança também tem doença psiquiátrica!??”, “O que geralmente elas têm??”. A partir daí, vejo o quanto há mitos e estigmas circundando o entendimento das pessoas sobre psiquiatria de crianças e adolescentes. Imaginem, então, a face de surpresa destas mesmas pessoas, quando ficam sabendo que crianças pré-escolares (isto é, com menos de 6 anos) também têm problemas psiquiátricos e que nós, psiquiatras da infância e adolescência, também atuamos nesta faixa etária.
Pois é, crianças pequenas também tem problemas emocionais e de comportamento que geram sofrimento e que comprometem seu dia-a-dia, seu desenvolvimento e seus relacionamentos.
A importância da psiquiatria da primeira infância está sendo cada vez mais valorizada, visto que há evidências claras da influência das vivências nos primeiros anos de vida sobre o desenvolvimento e sobre a saúde física e mental dos indivíduos.
Na maioria das vezes transtornos psiquiátricos que se iniciam na idade pré-escolar persistem na idade escolar; em outras situações alterações emocionais ou de comportamento na primeira infância precedem transtornos psiquiátricos na idade escolar. Tudo isto reforça a necessidade de se identificar e tratar precocemente as dificuldades de crianças pequenas.
Na abordagem de problemas emocionais e de comportamento em crianças pequenas, o psiquiatra precisa entender sobre desenvolvimento normal e atuar em conjunto com a família, muitas vezes implementando intervenções direcionadas especificamente para os pais.
O psiquiatra da infância e adolescência fará uma entrevista completa com os pais, observará a criança e a interação entre a criança e o cuidador para determinar o diagnóstico (se houver) e elaborar, junto com a família, o planejamento de tratamento, que envolverá a participação ativa dos pais e, muitas vezes, o trabalho conjunto com outros profissionais. Pode ser também necessária a prescrição de medicamentos.
Taciana G. Costa Dias
Psiquiatra da infância e adolescência