21/10/2025
É preciso não deixar o tempo escorrer pelas mãos, para usufruir do caminho e assim acolher cada instante como parte do processo de cura.
Dizer que “o tempo cura tudo” pode soar reconfortante, mas o tempo, por si só, não cura. O que realmente transforma a dor do luto é o processo interior de elaboração simbólica, que o tempo permite.
Jung lembra que “sem sofrimento, não há consciência” (Psicologia e Alquimia, VOL 12). A dor então, não é apenas algo a ser superado — é um chamado à transformação.
O tempo psicológico não é linear, como o tempo do relógio. Ele é simbólico, circular, feito de retornos e repetições. O tempo, então, não apaga o sofrimento, mas oferece um ritmo para a transformação. Ele nos dá o intervalo necessário para que a dor possa se tornar símbolo — e o símbolo é o que dá sentido à experiência.
Com o tempo, não é que a dor desapareça — é que aprendemos a habitá-la de outro jeito. M-L von Franz lembra que as feridas do destino podem ser “pontos de entrada da consciência” (O Caminho dos Sonhos, 1988).
A perda, quando acolhida, pode revelar uma dimensão mais profunda da alma. Ou seja: a dor pode se tornar um caminho de transformação.
No luto, algo dentro de nós também morre: uma identidade, um vínculo, um modo de existir. Essa ruptura abre caminho para uma ampliação da consciência.
Portanto, o tempo ajuda sim, mas só quando é vivido com presença e escuta interna. É no diálogo com a dor, e não através da negação, que nasce a verdadeira cura.
Referências bibliográficas
JUNG, C. G. Psicologia e alquimia. Obras Completas, vol. 12. Petrópolis: Vozes, 2011.
JUNG, C. G. Aion: estudos sobre o simbolismo do Si-Mesmo. Obras Completas, vol. 9/2. Petrópolis: Vozes, 2011.
JUNG, C. G. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
VON FRANZ, Marie-Louise. O caminho dos sonhos. São Paulo: Paulus, 1988.