Aline Pancieri Yoga

Aline Pancieri Yoga O objetivo dessa página é conectar, fazer pontes, e tornar acessível o conhecimento milenar do Yo

03/10/2025

Tudo que fazemos nessa vida requer movimento e o movimento pode ser dividido em quatro padrões gerais: ceder, empurrar, alcançar e trazer para si. Na educação somática chamamos isso de ciclo da satisfação.

Esses movimentos, e, na verdade, a qualidade deles, os hábitos que advém deles, falam de como nós vamos atrás do que queremos. Chama-se ciclo da satisfação porque esses movimentos fazem parte de um ciclo: não dá para alcançar algo novo se não há uma base sólida, ao mesmo tempo em que você não pode produzir novas bases se não se impulsionar para um novo local. Quando um ciclo termina, outro começa.

Nos últimos dias eu assisti uma aula da na qual uma aluna pergunta para ela qual seria a diferença entre o ceder à gravidade e o colapsar. Achei brilhante a resposta que a Bonnie deu: ao contrário do que o senso comum pode apontar, o colapsar não seria uma entrega absoluta à gravidade. Ao contrário, no colapsar há a perda da relação com a gravidade, com o fora, com o campo de forças. No colapso nos isolamos.

O ceder à gravidade, por sua vez, nos convoca à uma receptividade ativa, ao aprendizado de receber a gravidade em nós sustentando uma diferenciação. O ceder é sobre concentrar energia, e esse concentrar se dá por meio de uma abertura, uma disponibilidade ao receber.

Me conta: você já sentiu alguns desses padrões de movimento em você?



Um dos aspectos que eu mais aprecio na psicanálise é o estatuto de realidade conferido à fantasia. Se antes a fantasia e...
01/10/2025

Um dos aspectos que eu mais aprecio na psicanálise é o estatuto de realidade conferido à fantasia. Se antes a fantasia era negada, na psicanálise ela ocupa um lugar fundamental, operando como uma realidade psíquica subjetiva que organiza a experiência do sujeito a partir do desejo inconsciente e dos seus mecanismos de defesa.

A fantasia funciona como um combustível, guiando a formação dos sintomas, a elaboração dos conflitos e a relação com o mundo.  É a dimensão da fantasia que viabiliza a formulação do conceito de inconsciente e de um olhar para a psique que passa ao largo da consciência, da racionalidade.

E isso se desdobra em uma posição ética, que rejeita qualquer espécie de verdade universal. Uma verdade é uma verdade para o sujeito, e ela é cheia de furos, singularidades e ficções, em maior ou menor grau. Ela não é um fim, uma finalidade a ser perseguida, mas um impulso que o relaciona com o saber, que possibilita a criação de um saber sobre si.

Spinoza, a seu turno, trata da fantasia enquanto um modo de conhecer a realidade. Apesar de demarcar várias diferenças importantes em relação à psicanálise, pois para o nosso filósofo o real não é inalcançável ou transcendente, ainda assim há inúmeros pontos de convergência.

Spinoza trata da fantasia, ou da imaginação, enquanto um gênero do conhecimento, ou seja, um modo de conhecer a realidade. É possível dizer que para Spinoza a imaginação é o primeiro modo de apreensão do real. Nós nunca deixamos de imaginar, mas a imaginação pode ir se sofisticando no segundo e terceiro gênero de conhecimento. E o que seria essa sofisticação? Poder se reconhecer enquanto uma unidade corpo-mente, saindo do pensamento dualista e produzindo cada vez mais um pensamento monista e uma experiência integrada no viver.


O ser humano é um ser inacabado.Os outros animais dentro de meses virão a ser aquilo que serão por toda a vida. O ser hu...
25/09/2025

O ser humano é um ser inacabado.

Os outros animais dentro de meses virão a ser aquilo que serão por toda a vida. O ser humano, por sua vez, nasce muito mais vulnerável, porém dotado da capacidade de se aperfeiçoar.

O desamparo inicial humano é a condição para o seu desenvolvimento. A incapacidade é a base na qual as capacidades serão criadas.

Se já nascêssemos grandes e fortes não saberíamos como utilizar a nossa força. Se algo já está pronto, não há mais o que ser feito, ao passo que a incompletude traz uma abertura para a invenção

O corpo humano é uma forma em formação. Somos seres de carne em composição.


Tudo é natural e tudo é fabricado no ser humano.  Natureza e cultura são inseparáveis. Há uma sociologia na biologia.É a...
22/09/2025

Tudo é natural e tudo é fabricado no ser humano.

Natureza e cultura são inseparáveis. Há uma sociologia na biologia.

É através de uma intensa interação entre o biologigo e o cultural que nós nos formamos.

Somos geneticamente programados para aprender e isso só se realiza na relação com a ambiência.

O corpo não é uma expressão de um determinismo fisiológico mas de uma necessidade social.

A anatomia do corpo é inventado tal como a linguagem.

O uso que um ser humano faz do corpo vai além de qualquer determinação. O uso que se faz do corpo produz um força sobre o corpo.


A escuta clínica se constrói pela sustentação da angústia do não saber. E para poder sustentar um não saber se faz neces...
16/09/2025

A escuta clínica se constrói pela sustentação da angústia do não saber. E para poder sustentar um não saber se faz necessário muito estudo e trabalho em si.

Para a psicanálise ouvir é diferente de escutar. Enquanto ouvir se relaciona mais à ação fisiológica de perceber sons, escutar envolve a atenção flutuante. O que se ouve na clínica não são apenas as palavras, mas o silêncio, os lapsos os atos falhos, aquilo que escapa.

Na escuta clínica não se deve fazer comparações entre experiências. Quanto mais o analista compara, menos ele escuta.

Não convém tentar compreender tão rapidamente aquilo que um paciente fala. Não é preciso entender tudo que se passa na realidade relatada por um paciente para ser capaz de escutá-lo. E talvez nem seja preciso demonstrar ao paciente que ele está sendo compreendido.


O corpo fala aquilo que a consciência não alcança.Uma das grandes inquietações que movem a minha pesquisa é a observação...
08/09/2025

O corpo fala aquilo que a consciência não alcança.

Uma das grandes inquietações que movem a minha pesquisa é a observação de que a motricidade humana é quase sempre menosprezada dentro do campo psi. E a partir disso, uma série de pensamentos dualistas se instauram: falsas dicotomias entre corpo e mente, corporeidade e pensamento, movimento e linguagem, biológico e erógeno, etc.

O corpo biológico não é apenas um apoio do corpo erógeno. O corpo físico não é um mero fantoche ou um simples palco onde a representação se inscreve. É um erro tomar a fisicalidade sem a subjetividade, assim como tratar do subjetivo de modo descorporificado.

O corpo vivo é um processo subjetivo que vai se fazendo na relação com as ambiências, não só de acordo com o que o ambiente ofereceu ou faltou, mas no modo como isso foi percebido. O corpo vivo é um caldeirão de excitabilidade. A excitabilidade entre o que me chega, o que eu aproprio e expresso estão sendo constantemente modulados no gesto.

O que faço em posse da excitabilidade? Me inflo, me faço maior? Me apequeno, me compacto? Vazo, minguo? Me endureço?

O movimento é uma das grandes linguagens que possuímos. Nesse sentido, nenhum gesto é neutro. Nossa gestualidade fala da nossa história, de como uma cadeia de eventos foi vivenciada ao longo do tecido do tempo.


02/09/2025
Para um processo de análise caminhar existem algumas prerrogativas:É preciso que o analisante deseje o processo e, além ...
25/08/2025

Para um processo de análise caminhar existem algumas prerrogativas:

É preciso que o analisante deseje o processo e, além disso, realmente busque falar tudo que lhe vem à mente;

Ao analista cabe se desfazer do seu a priori, de qualquer ímpeto de antecipação;

Ao analista também cabe sustentar uma atenção flutuante, de modo a escutar tanto a história contada quanto aquilo que ficou de fora dela.

Nenhum tratamento clínico se assemelha ao outro, pois cada transferência é singular.

Cada analisante, por meio da sua demanda singular, modela o analista.

Cada clinicando inventa um lugar ao analista.

Cada analisante convoca o analista a desempenhar um certo papel.


para a realidade do inconsciente não existe tal coisa como “perder tempo”.para o nosso soma-psique mais problemático é o...
18/08/2025

para a realidade do inconsciente não existe tal coisa como “perder tempo”.

para o nosso soma-psique mais problemático é o medo de perder tempo e o efeitos disso em nós.

não querer perder tempo pode com frequência nos levar a atropelar processos, queimar etapas, dar passagem ao ato precocemente.

em geral, aceleramos com receio de que podemos potencialmente perder algo ou para evitar que isso aconteça.

mas é justamente a aceleração que provoca uma sensação de perda.

tentar não perder tempo algum é justamente o que provoca a sensação de perder tempo.

aceleração traz impulsividade e o que seria a impulsividade? justamente a perda da relação com o tempo.

ao acelerar nos desgarramos do tempo, ou do contato do tempo.

é preciso ter tempo para se relacionar com o tempo.

ambivalências e composições entre as psicanálises e as esquizoanálises:o real corta mas também multiplica.o inconsciente...
14/08/2025

ambivalências e composições entre as psicanálises e as esquizoanálises:

o real corta mas também multiplica.

o inconsciente repete mas também produz diferença.

o inconsciente guarda marcas mas também cria incessantemente.

o inconsciente faz sinestesia com o tempo: passado, presente e futuro se condensam, alongam e torcem.

o desejo se liga a objetos, mas não se reduz a eles.

o desejo é força produtiva, ainda que possa se mover por alguma ausência.

o desejo é forjado pela família porém mais ainda pelo campo social.

o desejo não busca ser preenchido, mas seguir em movimento.


mitos capitalísticos neoliberais: autossuficiência, méritocracia e livre arbítrio. o neoliberalismo instaura a falácia d...
11/08/2025

mitos capitalísticos neoliberais: autossuficiência, méritocracia e livre arbítrio. o neoliberalismo instaura a falácia do “american dream”, do “yes, we can”, como se o livre arbítrio, a meritocracia e o esforço pessoal pudessem dar conta de tudo.

entretanto, para spinoza o livre arbítrio não existe, pois na maior parte do tempo desconhecemos as causas exteriores que nos determinam a agir. spinoza nos fala que ninguém é autossuficiente: somos seres compostos e a nossa potência é sempre em relação. a psicanálise também sublinha a nossa fragilidade: nossa vida só vinga pois há um outro que nos cuida.

apesar de não sermos autossuficientes podemos desfrutar de momentos de solidão.
uma solidão que não é absoluta, que é povoada por outros entes. e, ainda assim, desfrutar da solidão só é possível quando sabemos como é estar junto. ficar sozinho só é possível quando não se ficou sozinho antes. a solidão só pode ser sustentada por quem já fez vínculo.


Pistas para uma esquizonálise:1. A esquizoanálise é uma abordagem teórico e prática que busca pensar e trabalhar os proc...
07/08/2025

Pistas para uma esquizonálise:

1. A esquizoanálise é uma abordagem teórico e prática que busca pensar e trabalhar os processos de subjetivações, o desejo e o inconsciente de um jeito não estruturalista, mas não só isso.

2. A esquizoanálise é uma ética de afirmação da vida e do desejo. Essa ética extrapola a clínica em si e nos ajuda a pensar no campo social. Quais são as capturas em jogo? Como não ser cooptado por elas? Como seguir afirmando a vida apesar do horror do mundo?

3. A esquizoanálise não é uma anti psicanálise, ao contrário. Trata-se muito mais de uma expansão do que uma contraposição. Deleuze foi um grande leitor de Freud, Lacan e Melanie Klein. Guattari foi analisando do Lacan.

4. A proposta de Deleuze e Guattari é fazer uma psicanálise sem interpretação. E como isso é possível? Através da cartografia. Nos interessa mais captar as linhas de força e perceber os movimentos que surgem no processo terapêutico.

5. Fazer uma genealogia da história de vida do sujeito é importante mas não é tudo. Não se trata de revelar o que está escondido, oculto, mas mapear o diagrama de forças do agora. Como fazer circular aquilo que trava?

6. Menos interpretação, mais experimentação. Mobilizar o olhar, abrir outros caminhos possíveis. Um sujeito não só fantasia, mas produz conexões no real. Ou seja, o real não está no plano do impossível, mas da composição e dos agenciamentos.

7. O desejo não é faltoso. O desejo é abertura, é potência que move a vida. A tarefa do esquizoanalista na clínica é colocar o desejo em movimento de experimentação. Para Deleuze e Guattari o desejo só funciona via conexão, se acoplando e se aliando.

8. Édipo não é universal, mas uma produção específica do inconsciente, em certas sociedades e culturas. Nem tudo é sobre Édipo. A esquizoanálise denuncia o capitalismo como produtor dos fantasmas que aprisionam o desejo. Como dizem Deleuze e Guattari: “uma criança não br**ca apenas de papai e mamãe”.

Deseja começar um processo terapêutico com essa abordagem? Mais informações pelo link na bio ou dm.


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