18/11/2025
Faz tempo que não passo por aqui, mas o atendimento de hoje abriu uma fenda silenciosa em mim. E, algumas vezes, quando a mente insiste em ruminar, deixo que as palavras façam o trabalho de reorganizar aquilo que a alma ainda está tentando entender.
Sabe o que pensei?
O trabalho clínico nunca foi apenas uma troca financeira. É ilusório acreditar que um psicólogo permanece na clínica por causa do valor que recebe ao final da sessão. Quem já se sentou diante do sofrimento do outro sabe. É outra coisa que nos mantém ali.
É um desejo íntimo, insistente, quase teimoso, que ultrapassa qualquer cálculo. Um desejo de estar, de acompanhar, de ofertar presença quando o mundo lá fora oferece ruído.
Eu poderia ter seguido qualquer outro caminho profissional. Mas escolhi cuidar de pessoas... E, curiosamente, essa escolha me escolhe de volta todos os dias. É uma convocação silenciosa, que me habita e me devolve a mim mesmo.
No consultório, me vejo assumindo múltiplos rostos, o de pai, mentor, mago, bruxo, sábio… e todas as outras figuras que esse território simbólico convoca quando a dor humana pede tradução.
Nunca foi apenas sobre valores.
Sempre foi sobre vínculo, partilha e vitalidade. Sobre estar vivo diante do outro, e sobre sustentar, com ética e coragem, o que muitos não conseguiriam suportar.
A clínica é esse lugar onde dois mundos se encontram, e onde, por alguns instantes, o sentido decide voltar.
Excelente noite!